A Prefeitura, por meio da Secretaria de Infraestrutura (Simap), iniciou a execução de serviços de revitalização, com limpeza e pintura, do Portal do Cemitério da Saudade. As intervenções seguem as diretrizes determinadas pelo Codepac (Conselho de Defesa do Patrimônio Cultural), já que o Portal é tombado como patrimônio histórico-cultural, por meio do Decreto 10.019/2002.
A última intervenção no Portal foi realizada há 18 anos, na ocasião do centenário do monumento. “A preservação do cemitério é de extrema importância, pois neste local está guardada grande parte da memória e da história de Piracicaba e do Brasil. Também há a questão das obras de arte que se encontram no cemitério, transformando o local em um museu a céu aberto”, destaca o historiador Mauricio Beraldo.
Entre os serviços estão limpeza total do Portal, tratamento de fissuras, aplicação de material impermeabilizante e raspagem, que visa retirar o material anterior para garantir uma fixação melhor da pintura nova.
As diretrizes para a intervenção no Portal foram estabelecidas após contratação de empresa especializada, que analisou e emitiu relatório determinando tipos de materiais e cores para pintura, a fim de manter a originalidade do monumento. Os serviços serão feitos no Portal, no átrio de entrada e nos muros do Portal.
A iniciativa é uma solicitação do Codepac em comum acordo com a Simap. Os reparos estão sendo executados em parceria com o Memorial Administradora de Planos de Assistência Funerária e Outlet Tintas.
HISTÓRICO – O Cemitério da Saudade – e seu portal – são elementos de relevância fundamental para a história de Piracicaba. Mauricio Beraldo, historiador e autor do livro Todos Somos Iguais, sobre o cemitério, em parceria com Paulo Renato Tot Pinto, conta que o cemitério teve seu início em 1860 e surgiu da necessidade dos imigrantes alemães, que estavam na cidade, de serem sepultados em um local próprio, já que a Igreja Católica, detentora dos cemitérios no Brasil, não permitia o sepultamento de pessoas de outras religiões à época.
“Sendo assim, os protestantes da cidade solicitaram à Câmara Municipal um terreno onde pudessem enterrar seus mortos. A Câmara, então, cede em 1860 a área onde hoje encontra-se o atual Cemitério da Saudade. Christian Theodor Loose foi um dos primeiros a serem sepultados no local, em 1869, e sua sepultura ainda encontra-se preservada”, conta Beraldo.
De acordo com o historiador, com o crescimento da cidade, o antigo cemitério de Piracicaba, que se localizava na atual Praça Tibiriçá, onde fica hoje a Escola Estadual Moraes Barros, passou a enfrentar vários problemas, como localização muito próxima do centro da cidade, problemas na conservação e administração do local, falta de condições sanitárias, dentre outros. “Com isso, a Câmara decide por mudar definitivamente o cemitério público para o Cemitério da Saudade, em 1872, sendo inaugurado no dia 2 de dezembro daquele ano. Embora a data oficial de inauguração tenha sido no mês de dezembro, o primeiro sepultamento ocorreu antes dessa data, sendo de uma recém-nascida, filha de uma senhora chamada Estrella do Norte. Já nos livros oficiais do cemitério, o primeiro sepultamento é de Gertrudes, escravizada de Antônio José da Conceição”, destaca o historiador.
Dessa forma, o Cemitério dos Protestantes e o Cemitério da Saudade passaram a coexistir na mesma área, sendo separados por um muro.
O PORTAL – No ano de 1906, conforme conta Beraldo, o então vereador Francisco Morato propõe a construção do portal, o que ocasionou na derrubada definitiva do muro que separava os sepultados de diferentes religiões. “O portal foi projetado por Serafino Corso e construído por Carlos Zanotta. É uma construção de caráter monumental, com inspiração no Arco do Triunfo, clássico e tem o estilo eclético pela liberdade estética com que foram usados os elementos clássicos”, acrescenta o historiador.
Na entrada, conforme explica Beraldo, há quatro figuras em relevo representando serafins e querubins, todas diferentes entre si. O portão de ferro foi trazido da Alemanha pelo arquiteto Serafino Corso e a epígrafe Omnes Similes Sumus foi pintada em 1941 pelo artista Joca Adâmoli, atendendo ao pedido do prefeito José Vizioli.
A epígrafe em latim significa Todos Somos Iguais – frase que intitula o livro escrito por Mauricio Beraldo e Paulo Renato Tot Pinto: Somos Todos Iguais – Cemitério da Saudade, lançado em 2020.
“O Cemitério da Saudade tem uma enorme importância para a história de Piracicaba, pois é neste local que se encontram a maioria das personalidades históricas que contribuíram para o desenvolvimento da nossa cidade e do nosso país. Assim como as personalidades famosas têm sua importância para a história, as pessoas comuns, gente trabalhadora da nossa terra, também merecem o reconhecimento de sua importância para a história do município. Todos que ali estão sepultados contribuíram para o crescimento e desenvolvimento de nossa sociedade”, complementa Beraldo.
Entre as personalidades sepultadas no Cemitério da Saudade, o historiador destaca Prudente de Moraes, o primeiro presidente civil do Brasil; Almeida Júnior, um dos maiores expoentes das artes plásticas do país; os Barões de Rezende e da Serra Negra; Padre Galvão; Dr. Alfredo Cardoso; o cururueiro Parafuso; Ditinha Penezzi, a primeira vereadora mulher eleita; Erotídes de Campos; Thales Castanho de Andrade, precursor da literatura infantojuvenil no Brasil; Cobrinha; Branca de Azevedo; Olívia Bianco; e Luciano Guidotti.
“O Cemitério da Saudade possui, além do Portal, três túmulos tombados, sendo os de Prudente de Moraes, Almeida Júnior e José Pinto de Almeida. O conjunto dos protestantes, as lápides mais antigas do local, estão em processo de tombamento. O local também conta com sepulturas de personalidades consideradas milagreiras, como Nelsinho da Chupeta, Dr. Alfredo Cardoso e Padre Galvão”, finaliza Beraldo.