O escrevente judiciário Gelson José de Faria encontrou no patins uma forma para reunir a família (Foto: Isabela Borghese)
Vento no rosto e rodas deslizando pelo chão. Mais do que exercício físico ou atividade recreativa, a patinação é encarada pelos praticantes como estilo de vida. A boa prática, entretanto, depende de uma série de fatores, entre eles a segurança, o piso adequado e uma área ampla. Em Piracicaba, os patinadores possuem um espaço capaz de atender todas as demandas: uma parceria realizada pela Prefeitura, por meio da Secretaria Municipal da Ação Cultural (Semac) e da Secretaria de Esportes, Lazer e Atividades Motoras (Selam), com o Grupo de Amigos Patinadores de Piracicaba, definiu em julho a cessão do barracão número 10 do Engenho Central de Piracicaba para uso dos adeptos da modalidade.
Os encontros acontecem às terças, quintas e sextas-feiras, das 18h30 às 22h, e aos domingos, a partir das 8h30. O uso do espaço é gratuito e aberto ao público, e atende desde iniciantes a atletas da patinação. "Comecei em agosto de 2019, quando presenteamos minha filha mais velha, a Maria Eduarda, que hoje tem 13 anos, com um patins. Na brincadeira, falei que sempre quis andar e nunca tinha conseguido. Minha esposa, Ana Flávia, levou a sério, comprou o patins e mandou entregar no meu trabalho. Com isso, me vi na obrigação de aprender. Então, comprei também o patins para ela e a Isadora, minha filha mais nova, também já ganhou o patins dela", contou o escrevente judiciário Gelson José de Faria.
Gelson e a designer Vanessa Garcia de Souza foram dois dos líderes do grupo que tomou a iniciativa de procurar a Prefeitura de Piracicaba para encontrar um local que reunisse as condições ideais para a patinação esportiva e recreativa. "Procuramos o secretário Hermes Balbino, da Selam, que teve a ideia do Engenho Central. O espaço estava ocioso e atendia nossas necessidades. É amplo e as condições do piso muito boas. Além disso, temos muita segurança. Quando conseguimos, o clima entre todos foi de muita euforia", disse o escrevente judiciário.
A autônoma Caroline de Souza é atleta do Capivaras Roller Derby (Foto: Isabela Borghese)
Nas atividades, impera o clima de harmonia. É comum ver famílias patinando lado a lado pelos corredores do barracão, enquanto patinadores mais experientes dão dicas para aprendizes. O 'espírito coletivo' também foi fator crucial para Gelson se apaixonar pela modalidade. "Eu sempre quis fazer uma atividade em família, principalmente para tirar as crianças do ócio e evitar muito celular, televisão e computador. Queria algo que pudéssemos fazer juntos e a patinação funcionou. Hoje, o patins para mim é mais do que uma recreação, virou um estilo de vida. Quando a família viaja, logo procuramos locais para patinar", afirmou.
Já a relação da autônoma Caroline de Souza com o patins vai além do aspecto recreativo. Atleta do Capivaras Roller Derby, ela também vê na modalidade uma forma de se motivar e encontrar a liberdade gerada pela sensação de vento no rosto. "O Roller Derby é um esporte competitivo, os treinos são baseados na evolução dos movimentos para o jogo. O primeiro passo, por exemplo, é ensinar a patinar e 'saber cair', e assim evitar lesões. Nós falamos que é o 'rugby de patins'. Para nós, ter um espaço no Engenho representa uma grande luta. Agora esse é o ponto de referência da patinação em Piracicaba. O local é ótimo, o chão é adequado e, para a nossa equipe, é muito bom para mostrar o esporte, pois os treinos geram curiosidade", falou.
O motorista Gustavo Silva encontrou na modalidade uma opção para voltar a praticar atividades físicas (Foto: Isabela Borghese)
Há cinco anos na patinação, o motorista Gustavo Silva encontrou na modalidade uma opção para voltar a praticar atividades físicas. Gustavo sempre gostou de jogar futebol, mas machucou o joelho após um acidente de moto. No patins, o impacto é reduzido e a adaptação, segundo ele, foi tranquila. Além disso, patinar também gera bom condicionamento físico. "Esse é o melhor espaço que já tivemos. Isso aqui representa liberdade, prazer e aumento da qualidade de vida. O ambiente aqui é bem bacana e seguro. Tem o pessoal mais experiente, muitas crianças e o convívio acaba nos tornando praticamente uma família. Cada um tem o seu motivo para começar, são vários atrativos", destacou o motorista.
VITORIOSA – A microempresária Jacqueline Alves Simão é dona de um dos currículos mais vitoriosos da modalidade. Hoje com 38 anos, ela começou aos 8 no esporte e participou de diversas competições, mas se federou apenas em 2017 pela equipe Gotcha de Patinação de Velocidade, de Barueri. No mesmo ano, venceu a Maratona Internacional 42 km da categoria máster 30 feminino. Em 2018, foi campeã paulista e vice do Brasileiro e do Troféu Brasil. "O espaço novo é uma grande conquista. O Engenho Central fica no coração da cidade e temos a oportunidade de nos reunirmos para praticar um esporte que amamos num lugar carregado de história. O patins não tem idade. Dos 4 aos 80 anos, todos participam e o pessoal está sempre disposto a ajudar quem quiser aprender", garantiu Jacqueline.
A microempresária Jacqueline Alves Simão é dona de um dos currículos mais vitoriosos da modalidade (Foto: Isabela Borghese)
"O Engenho tem o piso liso perfeito para a patinação. Só o fato de termos um espaço cedido legalmente já é uma grande conquista que deve ser celebrada fortemente", completou a atleta, que é formada pelo ICP, programa de certificação britânico para instrução de novos patinadores, e também atua como guia para patinadores cegos. Em 2018, chegou a ser vice-campeã nacional na categoria para pessoas com deficiência visual ao guiar a patinadora Amanda Henriques. "Quem sabe, futuramente, Piracicaba vira uma referência no esporte. É um sonho", completou.