Após oito meses, a parceria inédita entre a Prefeitura de Piracicaba – por meio da Secretaria de Saúde – com o Centro de Reabilitação de Piracicaba (CRP) para o atendimento especializado a pessoas com TEA (Transtorno do Espectro Autista) em idade entre 0 a 6 anos incompletos e seus familiares, já acolheu mais de 400 crianças e, destas, 116 preencheram os quesitos necessários e permaneceram na entidade para a construção do Projeto Terapêutico Singular (PTS). Neste período, foram realizados mais de 3.000 procedimentos com as crianças acolhidas e ainda existem 34 vagas disponíveis para atendimento pela parceria com o CRP.
A coordenadora do setor terapêutico do Centro de Reabilitação, a psicóloga Rebeca Padulla, destaca que os primeiros resultados estão sendo muito positivos. “Este tipo de atendimento fortalece os vínculos da família com a criança e todos passam a entender melhor o diagnóstico do autismo. Aqui o foco das ações não é somente o diagnóstico precoce, mas como isso vai influenciar a criança em seu ambiente, seja na escola, em casa, no parque, na igreja, entre outros espaços que ela venha a frequentar. Trabalhamos para que a criança se desenvolva, seja autônoma, tendo o direito de ela ser como ela é. Muitas crianças já evoluíram bastante neste projeto e isso é superpositivo”.
Adryel Albuquerque Soares, de cinco anos, é um dos primeiros a ingressarem para atendimento no CRP por meio da parceria com a Prefeitura. A mãe Erika Cristina de Albuquerque se diz muito feliz e empolgada com a evolução do filho. “Antes de vir para o Centro de Reabilitação tínhamos muitas dúvidas sobre o autismo e o comportamento do Adryel. Fomos muito bem acolhidos e, ver meu filho hoje é só agradecimento. Ele não gostava de fotos e de muita aglomeração, hoje ele faz pose para fotos, conversa com outras pessoas, faz suas coisas de escola mais rápido. É muito bom ver isso nele”, enfatizou Erika.
A mãe de Adryel ainda se emociona ao falar na transformação da sua vida nos últimos meses por meio do trabalho realizado pela equipe do CRP junto a sua família. “Eu sempre trabalhei e pouco tempo separei do meu dia para dividir com meus filhos em casa, porém, é aqui que estou me redescobrindo como mãe. Tenho outros filhos além do Adryel, mas somente agora entendi a importância de acompanhar, estar presente, de ser mãe. Antes não conseguia ir na praça com ele, hoje eu vou e nos divertimos muitos. Estou muito feliz, pois isso abrange toda nossa família”, completou.
O PROJETO – Janaína Camargo, enfermeira que trabalha no Projeto TEA, explica que o atendimento às crianças é feito de forma interdisciplinar por profissionais das áreas da psicologia, serviço social, educação física, terapia ocupacional, fisioterapia, fonoaudiologia, enfermagem e psiquiatria infantil onde são avaliadas as demandas e necessidades individuais de cada criança. “Para ingressar neste serviço é necessário encaminhamento profissional, de médico ou enfermeiro, da rede de atenção básica municipal, onde o profissional de referência avaliará a necessidade e complexidade de cada caso, sinalizando a gravidade por meio de classificação de risco, ação que dará prioridade para agendamento de casos mais graves”.
A psiquiatra do CRP, Danielle Faria Miguel, reforça que o primeiro contato com o serviço após o encaminhamento se dá em dois encontros com intervalo de 15 dias entre eles. Neste acolhimento é realizado escuta ativa da história pessoal e familiar do indivíduo assim como de suas demandas e necessidades. “Para avaliação, utilizamos métodos lúdicos de interação com a criança, aplicamos instrumentos de avaliação como a escala Modified Checklist for Autism in Toddlers (M-CHAT) e protocolo de Indicador de Riscos para Desenvolvimento Infantil (IRDI) para posteriormente realizar a Classificação Internacional de Funcionalidade (CIF), instrumento que reunirá as informações trazidas pela família e avaliação profissional do caso”, apontou.
Segundo Danielle, após a construção da CIF, o caso é discutido entre toda a equipe interdisciplinar para que sejam decididas as próximas ações a serem realizadas com as crianças e seus familiares. “Uma vez que é identificado sofrimento psíquico, presença ou indícios de TEA, um profissional é designado para ser a referência técnica da família para que este junto à família construa-se o Projeto Terapêutico Singular que é um conjunto de propostas de condutas terapêuticas articuladas com um indivíduo e sua família”, completou.
É importante destacar que as crianças que não atendem os critérios para permanecer no projeto são contrarreferenciadas para as unidades básicas de saúde e outros dispositivos na Rede de Atenção Psicossocial (RAPS).