Um cachorro-do-mato, ferido após ter sido atropelado numa rodovia que cruza o município, foi socorrido e levado por policiais militares ambientais ao Zoológico de Piracicaba em fevereiro. O jovem animal silvestre tinha um trauma na cabeça, passou por consultas médico-veterinárias e exames, foi tratado e medicado. Cerca de 40 dias depois, já recuperado, agora retornará ao seu habitat natural. Este é apenas um caso recente de um total de 286 bichos que, durante todo o ano passado e nos primeiros meses de 2020, foram atendidos e salvos pela equipe do Zoo.

Em 2019, foram 198 animais encaminhados ao zoológico vítimas de colisões com veículos, máquinas agrícolas, acidentes com linhas de cerol, feridos em caça ou recolhidos em operações de apreensão de animais silvestres mantidos em cativeiros ilegais. Deste total, constam 155 aves (corujas, gaviões, periquitos, maritacas), 9 répteis (cobras, jabutis e outros) e 34 mamíferos (cachorros e gatos-do-mato, ouriços, gambás).

Segundo a veterinária e responsável técnica pelo Zoológico de Piracicaba, Camilla Xavier Mendes, neste ano o Zoo já cuidou de 88 animais lesionados, a maioria gambás, maritacas, corujas e gaviões. “As aves normalmente chegam com fraturas nas asas ou amputação dos membros por causa de acidentes com linhas de cerol. Os gambás costumam chegar em ninhadas de filhotes órfãos, cujas mães geralmente são mortas por pessoas que as confundem com ratos. Já os ouriços e gambás adultos são atacados por cães e vêm para cá com lesões de mordedura”, disse Camilla que trabalha no Zoo há nove anos.

No Zoológico, os bichos feridos são tratados e reabilitados. Dependendo da gravidade, passam por exames laboratoriais, exames de imagens, cirurgias e consultas/procedimentos específicos (por exemplo cardiológicos e ortopédicos) em clínicas veterinárias que mantêm convênios com a Prefeitura.

Zoológico já cuidou de 88 animais lesionados neste ano

MIMADOS E ADOTADOS – Depois que o animal passa pela reabilitação, que dura uns dois ou três meses, ele é submetido a uma avaliação para saber se está apto a retornar à natureza. “Ou seja, se é capaz de caçar, de voar, de se manter sozinho, de sobreviver. Se não for capaz, ele é adotado pelo zoológico”, afirmou Camilla.

Uma parte dos animais atendidos no Zoo retorna para o habitat natural. Mas alguns não, a exemplo de um lobo-guará fêmea (que teve uma das pernas amputadas numa armadilha), um tamanduá bandeira e um veado catingueiro (vítimas de atropelamento), um gato-do-mato (atingido por uma colheitadeira), um cachorro-do-mato e uma onça parda encontrados num canavial. Alguns filhotes necessitam ser alimentados com seringas ou mamadeiras e acabam se acostumando com a presença humana. Ficam muito dóceis e, por isso, se tornam alvos fáceis para predadores. Nesses casos, o animal tende a permanecer no Zoo, onde receberá assistência veterinária e alimentação adequada.

Animais passam por consultas, exames laboratoriais, de imagens e cirurgias COMO PROCEDER? – Se um cidadão encontrar animais machucados, ou uma ninhada sem a mãe, deve acionar a Polícia Ambiental que, então, fará o encaminhamento ao zoológico. “O atendimento é realizado aqui, mas a forma correta é entregar os animais à PM Ambiental”, afirmou Camilla. A equipe do zoológico salienta que o local não pode ser visto como um “depósito de bichos” – o espaço somente acolhe animais silvestres feridos ou filhotes órfãos encaminhados pela PM Ambiental. Segundo Camilla, os filhotes encontrados na natureza “não devem ser removidos do local, a não ser que a mãe esteja morta”.

Outra orientação é quanto a filhotes de maritaca, que não devem ser retirados do forro das casas e levadas ao Zoo. “Isso é um crime ambiental”, alertou a veterinária. “Nesses casos, o conselho é aguardar que esses animais cresçam e saiam por conta própria. Só depois disso pode-se fechar os acessos ao forro da residência”, acrescentou.