No período considerado de seca, que se estende até setembro, a tendência é aumentar a proliferação de carrapato nas áreas verdes e margens de rios, córregos e lagoas. Em Piracicaba, temos um fator adicional, que é o Rio Piracicaba e as colônias de capivaras que vivem nas matas ciliares, animais hospedeiros dos transmissores da febre maculosa: o carrapato estrela. Esses roedores, portanto, ampliam a possibilidade de transmissão da doença por transitarem de um local para outro em busca de alimento. Por isso, a Secretaria de Saúde alerta sobre o risco de contaminação pelo carrapato-estrela para quem costuma visitar essas áreas endêmicas.

“É preciso muito cuidado quando se faz um piquenique com a família em áreas verdes, por exemplo, ou, ainda mais, quando se vai pescar, porque as pessoas ficam expostas ao carrapato”, enfatiza Eliane Carvalho, médica veterinária e coordenadora do Centro de Controle de Zoonoses (CCZ). A orientação da profissional técnica não é de alarme, mas de alerta, para que se evite a permanência principalmente às margens dos mananciais, porque não são seguras.

Em caso de exposição ao carrapato, é fundamental que, logo em seguida, os pais observem se não há nenhum no corpo das crianças e no próprio corpo. Caso seja encontrado, deve ser retirado imediatamente, antes que ele se fixe, tenha contato com a corrente sanguínea e transmita a bactéria causadora da febre maculosa, caso esteja contaminado. Se isso acontecer, os sintomas podem demorar de dois a 14 dias para aparecer.

“É importante saber que o famoso micuim também é o carrapato na fase jovem e também transmite a doença se estiver contaminado”, enfatizou a veterinária. “Muitas vezes as pessoas relatam que foram em áreas verdes e pegaram apenas micuim. Na verdade, pegaram carrapato. É preciso ter essa consciência para que se tenha um diagnóstico seguro em caso de suspeita da doença”, detalha.

A técnica explica ainda que além das capivaras, os cavalos também são hospedeiros do carrapato estrela, o que não acontece com os cães. No entanto, eles também apresentam riscos. “Os cães não são hospedeiros e não são agentes naturais no processo de transmissão da febre maculosa. Mas ocasionalmente podem transportar o carrapato contaminado para o local onde vivem, se eles tiverem acesso a áreas de infestação. Com isso, as pessoas que convivem com esses animais domésticos estarão indiretamente expostas ao carrapato”, detalhou Eliane. “Daí a importância de mantê-los sempre limpos”.

Sobre a doença

A Vigilância Epidemiológica realiza anualmente treinamentos para que os médicos de todas as unidades de saúde da rede pública fiquem atentos ao diagnóstico da febre maculosa. Porque eles precisam questionar seus pacientes sobre hábitos durante o consulta, buscando informações que possam levar à suspeita de febre maculosa. Se eles foram em algum lugar de risco, se percebeu algum carrapato no corpo depois do passeio etc. Porque se essas informações forem positivas, o médico precisa entrar imediatamente com os medicamentos para febre maculosa, mesmo antes de ter a certeza do diagnóstico. Somente a seguir será encaminhado o exame para análise específica em laboratório. Este procedimento respeita protocolo estabelecido pelo Ministério da Saúde (MS).

Mortes

Este ano, em janeiro, uma idosa foi vítima fatal da febre maculosa. Por ela gostar de andar sem destino definido, não se confirmou o local onde contraiu a doença. Em fevereiro houve a confirmação de um segundo caso, cujo contágio ocorreu nas imediações da lagoa do bairro Santa Rita. A sorte é que o diagnóstico foi feito em tempo e o paciente sobreviveu. Em março, no mesmo local (Lagoa do Santa Rita), houve uma terceira vítima, desta vez com óbito. Em abril, houve mais um caso, com final feliz, envolvendo uma pessoa do bairro Nova Piracicaba. Tratava-se de um pescador que também soube falar para o médico sobre seu lazer.

Estatística

Em 2015 foram registrados quatro casos de febre maculosa no município, sendo que três evoluíram para óbito e um para cura. No ano passado, ocorreram mais quatro casos, tendo dois evoluídos para óbito e dois para cura. Eliane afirma que, apesar de Piracicaba ser uma cidade endêmica para a febre maculada, é possível conviver com as capivaras, mantendo-se o devido distanciamento dos mananciais e cuidados básicos; visitando apenas parques e áreas destinadas ao lazer público, mas sempre muito atento ao carrapato-estrela.

Transmissão

Para haver transmissão da doença, o carrapato infectado precisa ficar pelo menos quatro horas fixado na pele das pessoas. Os mais jovens e de menor tamanho são vetores mais perigosos, porque são mais difíceis de serem vistos. Não existe transmissão da doença de uma pessoa para outra.

Sintomas

Os primeiros sintomas aparecem de dois a quatorze dias depois da picada. Na imensa maioria dos casos, sete dias depois. A doença começa abruptamente com um conjunto de sintomas semelhantes aos de outras infecções:

1. febre alta,

2. dor no corpo,

3. dor da cabeça,

4. inapetência,

5. desânimo.

6. Depois, aparecem pequenas manchas avermelhadas, as máculas, que crescem e tornam-se salientes, constituindo as maculopápulas.

Diagnóstico precoce é importante para dar início ao tratamento porque a taxa de letalidade da doença é elevada. Casos de febre maculosa brasileira são de notificação compulsória ao serviço de vigilância epidemiológica. Não existe vacina contra a febre maculosa brasileira.

Tratamento

A febre maculosa brasileira tem cura desde que o tratamento com antibióticos (tetraciclina e clorafenicol) seja introduzido nos primeiros dois ou três dias. Atraso no diagnóstico e, consequentemente, no início do tratamento pode provocar complicações graves, como o comprometimento do sistema nervoso central, dos rins e pulmões, das lesões vasculares e levar ao óbito.