A hanseníase é uma doença crônica e cercada de estigmas. Apesar disso, a doença tem cura, quanto tratada corretamente, e esse tratamento está disponível no SUS (Sistema Único de Saúde) de forma gratuita. Para alertar, incentivar e recomendar a mobilização de ações relacionadas à luta contra a hanseníase, a Prefeitura, por meio da Secretaria Municipal de Saúde, vai intensificar atividades na cidade em alusão ao Janeiro Roxo, campanha que segue até 31/01/2024.
A enfermeira Poliana Garcia, interlocutora do Programa de Tuberculose e Hanseníase de Piracicaba, explica que a doença é uma das enfermidades mais antigas conhecidas pela humanidade, classificada como doença negligenciada, e permanece como um importante problema de saúde pública no século 21. “Dados preliminares do Ministério da Saúde indicam que, em 2022, foram mais de 17 mil novos casos de hanseníase no Brasil. A Índia é o país com o maior número de casos com mais de 120 mil registros. O Brasil ocupa uma posição preocupante estando em segundo lugar”.
Conforme lembra Poliana, no Brasil, o Ministério da Saúde lançou recentemente a Estratégia Nacional de Enfrentamento da Hanseníase 2023-2030, que apresenta a visão de um Brasil sem a doença. “Para tanto, incentiva-se e apoia-se que os 75% dos municípios do país com casos notificados no período de 2015 e 2019 intensifiquem as ações para combatê-la, buscando envolver os setores da saúde e educação social, bem como incentivar a 25% dos municípios que não adotaram casos para tomarem medidas específicas para melhorar a vigilância em saúde e prevenir as incapacidades físicas decorrentes da hanseníase”.
Assim como nos anos anteriores, o município entra mais uma vez na luta para reduzir o número de casos, buscar o diagnóstico precoce e combater o estigma da doença. A interlocutora do Programa de Tuberculose e Hanseníase de Piracicaba reforça que, embora o número de casos registrados no município pareça pequeno – oito em 2020, 10 em 2021, nove em 2022 e 14 em 2023 –, o número é preocupante. “Cerca de 95% dos casos foram diagnosticados tardiamente, apresentando formas mais graves da doença e, em 60% deles, com algum grau de incapacidade instalada. Por isso a importância da campanha com informação e, também, da participação da população para termos o diagnóstico mais precoce”, lembrou Poliana.
Até o final do mês, todas as unidades de saúde da rede de Atenção Básica realizarão a busca ativa de novos casos, além de orientações relacionadas à doença para a comunidade. “Nos próximos dias acontecerão ações de capacitação para profissionais médicos e enfermeiros da Atenção Básica realizado pela médica Elisa Nunes Secamilli, dermatologista e especialista em hansenologia, com enfoque no diagnóstico precoce, assistência integral ao paciente e combate ao estigma”, apontou Poliana.
O médico vascular e secretário de Saúde, Augusto Muzilli Júnior, destaca que a hanseníase tem cura e o tratamento é todo disponibilizado pelo SUS. “Se a pessoa tem algum sintoma da doença, deve procurar a Unidade de Saúde mais próxima da sua residência, onde será avaliada. Se necessário, será encaminhada para o Centro de Doenças Infectocontagiosas, o Cedic, onde se confirmado o diagnóstico, realizará todo o tratamento sendo acompanhado por equipe multiprofissional com médico, enfermeiro, técnico, farmacêutico, fisioterapeuta, terapeuta ocupacional, psicólogo, dentista e assistente social. É importante lembrar que na hanseníase, quanto mais precoce o diagnóstico e tratamento, maior será a possibilidade de cura e regeneração neural, evitando as sequelas da doença”, enfatizou.
A DOENÇA – A hanseníase é uma infecção causada pelo Mycobacterium leprae ou bacilo de Hansen e afeta principalmente pele (presença de lesões) e nervos periféricos (com alteração de sensibilidade ou espessamento neural com alteração de sensibilidade).
A transmissão ocorre através das vias aéreas superiores, por contato com gotículas de saliva ou secreção nasal e se dá por meio do convívio próximo e prolongado com uma pessoa doente que não esteja em tratamento (iniciado o tratamento, não é mais transmitida). Os primeiros sintomas podem levar de 2 a 7 anos para aparecerem. Portanto, trata-se de uma doença crônica de evolução lenta.
A doença pode causar incapacidades físicas e perda funcional, especialmente nas mãos, pés e olhos, que pode ser muito grave em casos com diagnóstico tardio, afetando atividades diárias da vida do paciente, como escovar dentes, segurar uma colher, pentear cabelo, entre outras.
A vacinação com BCG, de acordo com calendário vacinal, vacinação de contatos, diagnóstico e tratamento precoce são as principais formas de prevenção para novas infecções pela Hanseníase.
SINAIS E SINTOMAS – Os sinais de suspeição da hanseníase são manchas esbranquiçadas, avermelhadas ou amarronzadas, em qualquer parte do corpo, com perda ou alteração de sensibilidade tátil, térmica e dolorosa; áreas com diminuição dos pelos e do suor; fisgadas ao longo dos nervos dos braços e das pernas; diminuição da sensibilidade e da força muscular da face, mãos e pés, devido à inflamação de nervos.
DIAGNÓSTICO – O diagnóstico da Hanseníase é clínico realizado por meio do exame geral e dermatoneurológico para identificar lesões ou áreas de pele com alteração de sensibilidade e comprometimento de nervos periféricos, com alterações sensitivas, motoras e autonômicas. A suspeição é feita pelos profissionais das Unidades Básicas de Saúde (UBS), na Atenção Primária, o paciente é encaminhado ao Cedic (Centro Especializado em Doenças Infectocontagiosas) onde será confirmado ou não, o diagnóstico. A transmissão ocorre quando uma pessoa com Hanseníase, na forma infectante da doença, ou seja, sem tratamento, elimina o bacilo para o meio exterior, através do aparelho respiratório superior (secreções nasais, gotículas da fala, tosse, espirro).
TRATAMENTO – O SUS disponibiliza o tratamento e acompanhamento da doença em Unidades Básicas de Saúde (UBS) e nas unidades de referência. Os medicamentos são seguros e eficazes. Ainda no início do tratamento a doença deixa de ser transmitida. No tratamento são utilizados três medicamentos denominado Poliquimioterapia Única (PQT-U) e está disponível nas apresentações adulto e infantil, disponibilizada de forma gratuita e exclusiva no SUS.