Paulo Renato Simoni e Cristiane Zallio, em atividade no ateliê do CAPS II Bela Vista
Até o mês de fevereiro, o Ambulatório de Saúde Mental da Vila Sônia, devido à falta de médicos psiquiatras no Brasil, era obrigado a fazer plantões aos sábados, com os especialistas existentes na rede, para sanar essa deficiência e atender os usuários da região. Foi uma saída para ampliar as consultas médicas. No entanto, isso inviabilizava a participação desses pacientes nos programas terapêuticos, oferecidos pela unidade durante a semana. Acompanhamento fundamental para a sua adequada reabilitação.
Em dezembro do ano passado, a Prefeitura conseguiu a contratação de dois novos médicos psiquiatras, o que permitiu a recomposição da equipe da Rede de Atenção Psicossocial (RAPS) de Piracicaba. Com esse ganho, a partir de março, o Ambulatório de Saúde Mental da Vila Sônia pode voltar à sua rotina, eliminando os plantões e oferecendo de segunda à sexta-feira atendimento completo a todos os seus usuários.
Paralelo a esse avanço, vem ocorrendo uma reestruturação geral na RAPS, que resultou em um salto de qualidade no atendimento à população com sofrimento psíquico e/ou com transtorno decorrente do uso problemático de substâncias psicoativas (álcool e outras drogas). A ampliação das equipes médicas e terapêuticas, mais a reengenharia da rede proporcionaram, portanto, que todos os pacientes, ao chegarem no Centro de Atenção Psicossocial (CAPS), sejam recepcionados por profissionais qualificados, que acolhem suas demandas, orientam e estruturam projetos terapêuticos individualizados.
De acordo com o secretário de Saúde, dr. Pedro Mello, devido a esse processo difícil, decorrente da falta de profissionais no mercado com essa especialidade médica, a única alternativa foi abrir as consultas aos sábados. “Mas com a equipe completa, o serviço reestabelece sua normalidade, buscando sempre a melhoria contínua. O que significa o aperfeiçoamento permanente do atendimento à população”, disse.
ESTATÍSTICA – A reestruturação tem permitido também mensurar os resultados, que poderão ser usados para medir desempenho. Em 2016, por exemplo, foram realizados 6.517 acolhimentos, ocorreram 29.8884 consultas psiquiátricas, 20.844 participações em atendimentos terapêuticos (individuais ou grupais), além de 15.111 participações em oficinas de atividades corporais e expressividade.
Também ocorreram outras iniciativas relacionadas a alimentação, medicação, cuidados com saúde e higiene, atendimentos a familiares, visitas domiciliares e busca ativa, atividades fundamentais ao processo de reabilitação psicossocial.
A RAPS Desenvolveu AINDA um projeto com a Rede de Atenção Básica e a Secretaria de Assistência Social, abrindo novos caminhos para a prevenção e promoção em saúde mental, intervenções pontuais e garantia de direitos no território ao qual a pessoa atendida pertence. No ano passado, por exemplo, graças a essa parceria, foram realizadas 297 ações de matriciamento e, para este ano, está previsto crescimento ainda mais expressivo desse trabalho conjunto.
De acordo com a coordenadora da Rede Psicossocial, Vandrea Novello, “com os avanços, conseguimos melhorar significativamente a convivência das pessoas com transtornos psíquicos ou decorrentes do uso abusivo de substâncias psicoativas, garantindo a elas inserção social e gerando redes inclusivas”. No entanto, ela observa que “há um percurso a ser seguido para alcançarmos o ponto ideal”.
ESTRUTURA – Atualmente, a Rede Psicossocial é composta de nove equipamentos: A coordenação de RAPS – responsável pela elaboração e otimização dos Projetos; o Serviço de Residência Terapêutico, que é uma residência completa, com 10 ex-moradores de hospitais psiquiátricos; a Casa das Oficinas, projeto de geração de renda que atende aos usuários da RAPS; o Consultório na Rua, equipamento volante responsável em garantir e ampliar o acesso integral à saúde da população de rua; o Ambulatório de Saúde Mental Álcool e/ou Outras Drogas, que atende a população do município com transtornos decorrentes do uso problemático de substâncias psicoativas; o Ambulatório de Saúde Mental Infantojuvenil, para crianças e adolescentes até 18 anos de Piracicaba, Águas de São Pedro e Santa Maria da Serra em sofrimento psíquico intenso, decorrente do acometimento por transtornos mentais graves e persistentes (quadros graves de transtornos de humor e ansiedade, transtornos alimentares, quadros psicóticos, problemas emocionais e comportamentais decorrentes de alta vulnerabilidade social e transtornos do espectro autista) ou devido ao uso problemático de substâncias psicoativas; o Ambulatório de Saúde Mental Vila Cristina, para a população acima de 18 anos da região oeste da cidade que apresenta transtornos mentais severos e persistentes (transtornos neuróticos, transtornos psicóticos, com ideação ou tentativas de suicídio) ou devido ao uso problemático de substâncias psicoativas; o Ambulatório de Saúde Mental Vila Sônia que atende a população da região norte, Ártemis, Santana e Santa Olímpia acima de 18 anos que apresenta transtornos mentais severos e persistentes (transtornos neuróticos, transtornos psicóticos, com ideação ou tentativas de suicídio) ou devido ao uso problemático de substâncias psicoativas; o CAPS II – Bela Vista, para a população das regiões centro, sul e leste, mais Águas de São Pedro, e Santa Maria da Serra, que apresenta transtornos mentais severos e persistentes (transtornos neuróticos, transtornos psicóticos, com ideação ou tentativas de suicídio) ou devido ao uso problemático de substâncias psicoativas..
Graças a essa reestruturação, explica Vandrea, vem diminuindo significativamente a procura dessa população pelas UPAs e diminuindo expressivamente também o número de internações, particularmente as compulsórias, “o que significa um ganho na qualidade de vida Aos pacientes e seus familiares”, concluiu.