Pescadores piracicabanos se reuniram na manhã de hoje no Bar do Carlinho, no Tanquã
Pescadores piracicabanos se reuniram na manhã de hoje no Bar do Carlinho, no Tanquã

“Foi um choque, mas também me deu muita raiva”. Essas palavras foram usadas pela pescadora profissional Neuci dos Santos, de 52 anos, e que está há 10 anos tirando o sustento de sua família nas águas do Tanquã. Ela foi uma das pessoas afetadas pelo desastre ecológico que matou toneladas de peixes na semana passada e que esteve na manhã de hoje, terça-feira, 23/07, ao lado do marido e dos netos, no Bar do Carlinhos, no Tanquã, para fazer cadastro emergencial e poder receber cesta básica da Prefeitura de Piracicaba. A ação, coordenada pela Secretaria Municipal de Assistência e Desenvolvimento Social (Smads), vai garantir que os pescadores do Tanquã, afetados pela tragédia ambiental, recebam a cesta. Vinte e uma famílias foram cadastras.

Neuci lembra que antes a vida era boa e tranquila. “Me deu muita raiva ver os peixes morrendo, fiquei chocada e me bateu o desespero. Como vou sustentar minha família?”, relatou a pescadora. “Recentemente precisei reformar o motor do meu barco e compramos redes novas, mas estou preocupada, não compramos à vista, foi parcelado e não tenho mais como arcar com esse compromisso sem poder pescar aqui. É muita tristeza”, completou.

A pescadora profissional Neuci dos Santos está há 10 anos tirando o sustento de sua família com a venda de peixes
A pescadora profissional Neuci dos Santos está há 10 anos tirando o sustento de sua família com a venda de peixes

Ao lado do marido, Carlos Miguel Pereira da Silva, 58 anos, que trabalha como serviços gerais e ajuda Neuci com a pesca aos finais de semana para aumentar a renda da família, ela afirma reencontrar forças para lutar somente agora. “Estou feliz por mim e pelos demais pescadores do nosso bairro que também terão essa ajuda, pelo menos não vai faltar comida na mesa”, afirmou a pescadora.

Foram 21 famílias de pescadores cadastradas – pelas equipes do CRAS Novo Horizonte e do Cadastro Único – para o recebimento emergencial de cesta básica. Segundo a Smads, após o cadastramento, o município vai consultar a Secretaria de Desenvolvimento do Estado de São Paulo para saber se há outro tipo de benefício que possa ser direcionado a essa população.

Ao centro, Neuci e o esposo Carlos, junto dos netos Arthur (7), Ana Clara (12) e Jonatan (4), às margens do Tanquã
Ao centro, Neuci e o esposo Carlos, junto dos netos Arthur (7), Ana Clara (12) e Jonatan (4), às margens do Tanquã

O presidente da Colônia de Pescadores Z30, do Tanquã, Antonio Marcos da Silva, conhecido pela comunidade local como Marquinhos Batista, disse que o apoio vem em boa hora. “Eles vivem da pesca e muitas vezes vivem apenas dos peixes que pescam aqui. A cesta básica emergencial será um alívio para eles que estão sem direção, sem saber se podem ou não pescar por aqui ou quando vão ter a pesca liberada pelos órgãos ambientais”, disse.

ÁREA DE PROTEÇÃO – O Tanquã-Rio Piracicaba é considerado uma Área de Proteção Ambiental (APA) desde 2018 e compreende um espaço de 14.057,3000 hectares, abrangendo os municípios de Anhembi, Botucatu, Dois Córregos, Piracicaba, Santa Maria da Serra e São Pedro.

De acordo com informações da Fundação Florestal, no local ocorrem 94 espécies de aves aquáticas, 16 das quais realizam movimentos migratórios e oito estão ameaçadas no estado. Entre os mamíferos e os répteis ameaçados de extinção, há a onça-parda, o lobo-guará, a jaguatirica e o jacaré-de-papo-amarelo. Já entre os peixes, as espécies piracanjuba, curimbatá-de-lagoa, pacu e pintado integram a lista de ameaçados de extinção.

SMADS fez cadastramento emergencial para pescadores de Piracicaba que vivem profissionalmente às margens do Tanquã
SMADS fez cadastramento emergencial para pescadores de Piracicaba que vivem profissionalmente às margens do Tanquã

HISTÓRICO – A mortandade dos peixes no rio Piracicaba foi causada por despejo de resíduos da cana-de-açúcar com alta carga orgânica no ribeirão Tijuco Preto, afluente do rio Piracicaba, no dia 07/07, pela Usina São José S/A Açúcar e Álcool, instalada em Rio das Pedras, que foi multada em R$ 18 milhões.

No dia 15/07, esse material chegou ao Tanquã, causando a mortandade de mais peixes. No dia 16/07, a Prefeitura de Piracicaba deu início a uma operação para retirada dos peixes do Tanquã, que ficaram presos às ilhas de vegetação flutuante. Até ontem, 22/07, 98 toneladas de material haviam sido retiradas das águas, na operação nomeada de Pindi-Pirá, que tem apoio da Cetesb e Polícia Militar Ambiental.

A força-tarefa da Prefeitura conta com as secretarias de Governo (Semgov), Infraestrutura e Meio Ambiente (Simap), Obras e Zeladoria (Semozel), Guarda Civil e a Defesa Civil, empresas parceiras e moradores locais. A operação conta ainda com o apoio das empresas Hidrotractor, Ambiental, Ecoterra, Raizen, Tectextil, Grupo São Martinho – Usina Iracema.