O prefeito Gabriel Ferrato assinou o decreto que institui a Festa do Divino de Piracicaba como patrimônio cultural imaterial. A solenidade oficial aconteceu na noite de ontem, 20/12, no salão de festas da Irmandade do Divino Espirito Santo. Além do prefeito, participaram da solenidade a secretária municipal de Turismo, Rose Massarutto, o presidente do Codepac (Conselho de Defesa do Patrimônio Cultural de Piracicaba), Mauro Rontani, o vereador José Antonio Fernandes Paiva, Adilson Menezes e Mauricio Ponce, presidente e vice da Irmandade do Divino Espírito Santo, respectivamente, e Wilson Louvandini, que falou em nome de todos os membros da Irmandade. A Banda Lira Guarany e o grupo de Congada se apresentaram durante o evento. Foto- Adilson Franco
A festa teve início em 1826, há 190 anos, e se configura como a mais tradicional manifestação religiosa e popular da região, atraindo milhares de pessoas, com expressivos rituais, como Folia, Pouso, Leilão de Prendas, Encontro das Bandeiras, Procissão, Missa e Rodas de Cururu e Violeiros. O evento é organizado pela Irmandade do Divino Espírito Santo e tem apoio da Prefeitura de Piracicaba, por meio da Secretaria Municipal de Turismo (Setur). A assinatura do decreto foi realizada hoje, 20/12, pelo prefeito Gabriel Ferrato, no Salão da Irmandade do Divino. A solicitação do registro foi protocolada no Codepac pelo Departamento de Patrimônio Histórico do Instituto de Pesquisa e Planejamento de Piracicaba (Ipplap) em julho deste ano. No documento, o Ipplap justificou seu pedido ao analisar que "o reconhecimento e valorização da Festa do Divino Espírito Santo de Piracicaba é um dos pressupostos para a preservação da mais antiga e de grande expressão como manifestação festiva e religiosa da cultura piracicabana".
O documento ainda descreveu a Festa do Divino como um evento carregado de simbolismo e significação, que interage elementos religiosos e ritos populares. Observou que, apesar de ter passado por modificações, decorridas das transformações sociais, conseguu manter sua estrutura e principais elementos culturais. Essas justificativas reforçaram sua importância e justificaram o seu registro como bem imaterial.
"Em setembro, o sotaque e o dialeto caipira foram registrados como bens imateriais. No início do mês foi a vez do tombamento do Palacete Rodolpho de Lara Campos, no Clube de Campo. E agora o registro da Festa do Divino, uma das mais importantes manifestações culturais e religiosas de Piracicaba. Essas foram algumas das mais importantes conquistas nas áreas cultural e de patrimônio durante o meu mandato", enfatiza o prefeito Gabriel Ferrato.
"O registro de nossa quase bicentenária Festa do Divino como patrimônio imaterial do município é o reconhecimento de uma tradição que ultrapassou as fronteiras religiosas e fundiu-se à identidade cultural piracicabana. Este é um momento que referenda sua importância", disse a secretária da Ação Cultural, a qual o Codepac está ligado, Rosângela Camolese.
De acordo com Mauro Rontani, procurador-geral do município e presidente do Codepac, o processo de registro foi rápido. "Tínhamos em mãos um material vasto e rico sobre a Festa do Divino e tivemos a ajuda da Irmandande que, durante toda a história da festa, quase dois séculos, sempre se preocupou em manter viva a sua história e a sua memória", elogiou.
"A Festa do Divino do Espírito Santo de Piracicaba é um legítimo patrimônio imaterial, que está sendo preservado com esse registro. Esta festa reúne a legitimidade das manifestações religiosas, da dança, por meio da congada, da música, por meio do cururu, da gastronomia, por meio do cuscuz paulista, enfim, um conjunto de manifestações culturais que enriquece a identidade do piracicabano, embeleza nosso rio e convida todos a conhecerem nossa cidade. Preservar nossa história e memória é muito importante para construção do futuro das novas gerações e, consequentemente, nos possibilita cada vez mais valorizar Piracicaba, criando estas experiências culturais que dividimos com nossos visitantes e turistas", diz Rose Massarutto, secretária de Turismo.
Foto – Justino Lucente
Para o presidente da Irmandade do Divino, Adilson Menezes, o registro da festa é um "alívio", já que garante a identidade cultural do evento. "No decorrer dos tempos, as pessoas que chegam querem alterar alguma coisa, porque acham mais bonito. Mas a festa não pode mudar. Esse registro nos dá tranquilidade em todos os sentidos. Mantém a tradição e preserva a história", comemora. HISTÓRICO – De acordo com o parecer, há várias versões sobre a origem da Festa do Divino, que está integrada aos festejos realizados em épocas de colheita. Alguns historiadores defendem sua origem na Idade Média; outros apontam a Alemanha, mas é fato que no Brasil a Festa do Divino Espírito Santo tem influência portuguesa. A difusão da manifestação pelo Brasil ocorreu numa conjuntura de negociação de valores e de representações culturais entre diferentes elementos étnicos culturais: colono português, escravo africano, indígena e estrangeiro. Dessa forma, os ritos das crenças africanas, indígenas e cristãs de misturam. Justificando manifestações de origem africana, como a Congada, indígena, como o Cururu, como componentes inseridos na Festa do Divino Espírito Santo. Sua expressão varia em tempo e local e se manifesta de diferentes formas: rural ou urbana; marítima, com encontro dos barcos no mar, fluvial, com encontro dos barcos no rio ou terrestre, sem encontro dos barcos. Mas, em todas as formas de expressões encontram elementos comuns: leilões, quermesses, distribuição de alimentos, celebrações, procissões e desfiles da bandeira e folia do Divino, torneios de cantadores e cururueiros.