A desembargadora Luislinda Valois, nome escolhido pelo presidente Michel Temer para comandar o Ministério dos Direitos Humanos, é uma das personagens do livro Consciência Negra em Movimento – Coletânea de Biografias, lançado pelo Conepir (Conselho da Comunidade Negra de Piracicaba), com apoio da Prefeitura de Piracicaba. O livro, publicado em 2014, traz biografias de 209 homens e mulheres negros que ajudaram e ajudam a construir a identidade da comunidade por meio de sua luta e trabalho.
De acordo com o presidente do Conepir, Adney Araújo, o trabalho de Luislinda é conhecido há muito tempo, por isso sua escolha para o livro. “Sua nomeação mostra o empoderamento da mulher e é um avanço da comunidade negra”, observa Araújo, que, em 2016, participou de quatro encontros com a atual ministra, quando ela comandava a Secretaria Especial de Políticas para a Promoção da Igualdade Racial (Seppir)
Para Araújo, o livro Consciência Negra em Movimento é uma ferramenta de valorização da comunidade negra. “Nele há biografias de médicos, desembargadores, delegados, que são exemplos para os nossos jovens de que, apesar de todas as dificuldades, somos capazes”, disse.
Consciência Negra em Movimento teve tiragem de 1.000 exemplares, que foram distribuídos gratuitamente para escolas e membros da comunidade negra de Piracicaba. Segundo Araújo, o Conepir, que está ligado à Secretaria de Governo, busca parceiros para uma nova tiragem. “Também iremos lançar outros volumes”, avisa.
PRIMEIRA JUÍZA NEGRA – Luislinda é reconhecida como a primeira juíza negra do Brasil e também foi a primeira magistrada a emitir uma sentença tendo como base a Lei do Racismo. Nascida em 1942, na cidade de Salvador, Bahia, Valois, filha de um motorneiro de bonde e uma lavadeira, e neta de escravos, lembra que, quando criança, um professor pediu a sua classe para comprar materiais de desenho. Como tinha poucos recursos, seu pai só poderia comprar materiais mais baratos, de qualidade inferior. Vendo seus materiais, o professor teria dito,s egundo ela: “Você deveria parar de estudar e aprender a fazer feijoada na casa de brancos". Chorando, Valois respondeu: “Vou ser juíza para lhe prender”.
Foi nesse momento que ela decidiu seguir a carreira judicial, que só começou em 1984, quando passou em um concurso e foi nomeada para trabalhar no distrito de Paramirim. Desde então, atuou em 17 distritos judiciais da Bahia, até ser transferida para Salvador, onde desenvolveu projetos como o Justiça Itinerante e Justiça, Escola e Cidadania.
Em 2009, lançou o livro O Negro no Século XXI, uma compilação de artigos sobre cultura, educação, política pública, justiça social e religião. Em 2011, foi promovida a juíza do Tribunal da Bahia, e, assim, tornou-se a primeira mulher negra a alcançar essa posição no país. Em 2012, recebeu o título de Embaixatriz da Paz da Organização das Nações Unidas (ONU).
Em 2016 foi nomeada para comandar a Secretaria Especial de Políticas para a Promoção da Igualdade Racial, atual Ministério dos Direitos Humanos e Cidadania. Entre as suas prioridades no ministério estão a propagação do Estatuto da Igualdade Racial; a implementação definitiva da Lei nº 10.639 / 2003, que torna obrigatória a inclusão da história e da cultura afro-brasileira no currículo do ensino público; além de tomar iniciativas para promover maior conscientização e respeito da população para com as religiões de matriz africana; a inclusão de negros em posições de poder do Estado e a redução no número de homicídios de jovens negros e pobres da periferia. (Com informações da Agência Brasil)