O documentário de longa-metragem piracicabano Esquecendo Flora será lançado no próximo dia 25/11, às 19h, na Biblioteca Pública Municipal Ricardo Ferraz de Arruda Pinto, como parte do Projeto Nhô Cine. O evento, gratuito, é uma realização do Misp (Museu da Imagem e do Som), Cena14 audiovisual, TV Unimep e Biblioteca, com apoio da Prefeitura, por meio da Secretaria Municipal da Ação Cultural (Semac). O filme conta a direção e roteiro de Beto Oliveira e Mayra Kristina Camargo, colaborando como roteirista, e é realizado com apoio do Programa da Ação Cultural (ProAc).
A atriz Bianca Oliveira constrói as memórias de resistência de Flora Maria Blumer- Fotografia Still por Tamy Gonçalves
O filme, da frame7Cinema, recupera memórias de resistência de Flora Maria Blumer de Toledo, mulher negra, nascida escravizada e alforriada por Martha Watts em 1881. Flora trabalhou por anos no Colégio Piracicabano e se tornou a primeira mulher preta a ser admitida como membra numa igreja protestante no Brasil, em uma época em que as igrejas de brancos e negros eram segregadas.
O longa aborda a identidade racista e colonial de uma região classificada por historiadores como Mississipi Paulista. A história é contada por meio de depoimentos de pesquisadores e historiadores da região de Piracicaba e reúne entrevistas com Alexandra Lohas, Adelino Ademir José, Antonio Filogênio Junior, Carlos Carvalho Cavalheiro, Giovanna Fenili Calabria, Joana D´arc Oliveira, Joceli Lazier, Luis Fernando Amstalden, Maria Helena Machado, Oswaldo Elias de Almeida e Rafael Gonçalves, com o objetivo de resgatar a memória de Flora e investigar os processos que culminaram no apagamento ou na invisibilização da presença e contribuição negra na história oficial da cidade de Piracicaba.
Flora, nascida escravizada, alforriada em 1881- Fotografia- Still-Tamy Gonçalves
A pesquisa do filme está em produção desde 2019. Beto Oliveira, diretor do longa, revela que a documentação histórica de negros foi um dos desafios a serem superados. "O que temos hoje da pesquisa de documentação histórica é um reflexo de uma época onde as pessoas negras apareciam em registros de compra e venda, registros policiais, cartas de alforria e certidão de morte. Os documentos limitados não refletem a complexidade de uma pessoa como Flora, que teve uma presença revolucionária forte na cidade", conta.
A co-roteirista Mayra Kristina ressalta o potencial educativo da pesquisa e das entrevistas. "Necessário, já seria o suficiente, porque esse documentário é exatamente isso, e fico me perguntando: por que me privaram de saber de tal história por tanto tempo? Pois ela faz parte de todos nós piracicabanos, ela vem, sem dúvida, para nos fortalecer, sobretudo a nossa luta antirracista dos movimentos negros", ressalta.
A direção de produção de Esquecendo Flora é assinada por Beatriz Ferraz, que reflete sobre a importância de desenvolver um olhar crítico sobre a história. "Olhar para o nosso passado e fazer conexões com o presente é essencial para realmente podermos dizer que estamos comprometidos com um futuro antirracista. Esse filme é a manifestação de um desejo de apontar caminhos seguindo um preceito do ideograma Adinkra, Sankofa que, segundo Abdias do Nascimento, traduz-se por retornar ao passado para ressignificar o presente e construir o futuro", conclui.
SERVIÇO – Projeto Nhô Cine, com exibição do filme Esquecendo Flora, de Beto Oliveira (classificação indicativa 12 anos). Sexta, 25/11, às 19h na Biblioteca Municipal Ricardo Ferraz de Arruda Pinto, rua Saldanha Marinho, 333, Centro, Piracicaba. Gratuito. Mais informações @filmeflora, @frame7cinema, @cena14audiovisual