Janeiro Roxo: especialista alerta para casos de hanseníase
A Secretaria de Saúde tem intensificado ações em toda rede municipal para alertar a população sobre a hanseníase, por meio das atividades propostas pelo movimento nacional Janeiro Roxo, cujo objetivo é aumentar o diagnóstico precoce dos casos, para iniciar o tratamento com posterior cura e menor índice de transmissão e sequelas, além de combater o estigma da doença. Em Piracicaba, o número de casos pode ser considerado baixo, já que foram registrados 11 em 2018; 11 em 2019; oito em 2020; dez em 2021 e nove em 2022, segundo dados divulgados pelo Centro Especializado em Doenças Infectocontagiosas (Cedic).
Conforme explica a médica dermatologista Luciana Prates Nogueira de Lima, especialista em hansenologia do Cedic, a transmissão da doença se dá entre pessoas. Uma pessoa doente que apresenta a forma infectante da doença (multibacilar), estando sem tratamento, elimina o bacilo de Hansen, Mycobacterium leprae, pelas vias respiratórias – secreções nasais, tosses, espirros, perdigotos -, podendo assim transmiti-lo para outras pessoas suscetíveis. "Em 90% das pessoas o bacilo nem chega a se desenvolver porque o corpo já tem uma imunidade natural à doença, e os demais podem evoluir para algum grau da doença, seja mais leve ou mais crônico, disseminando pelo corpo. Por isso, se o diagnóstico é precoce, a pessoa tem grandes chances de não ter sequela".

Luciana Prates Nogueira de Lima, é médica dermatologista e especialista em hansenologia do Cedic
Segundo a médica especialista, manchas esbranquiçadas e posteriormente avermelhadas, e alteração na sensibilidade da pele são algumas características da hanseníase. "Se não há um diagnóstico precoce, e/ou se a imunidade do corpo não é eficaz, os bacilos vão se multiplicando, as manchas ou lesões aumentam e o acometimento dos nervos se torna mais extenso", explica Luciana.
Ainda de acordo com a profissional, é importante ressaltar que nem sempre a hanseníase vai se mostrar por meio das manchas. Há diversos casos em que a pessoa apresenta primeiro um sintoma neurológico – formigamento nas mãos e/ou pés, queda de objetos leves ao tentar pegá-los, queimaduras e ferimentos sem dor, fadigas, câimbras, dores crônicas, entre outros –, sintomas que muitas vezes não são lembrados como hanseníase, o que prejudica o diagnóstico e o tratamento da doença. "Fazemos o alerta para que os médicos não descartem estes tipos de sintomas e peçam a avaliação clínica, exames específicos laboratoriais e neurológicos para diagnosticar a doença. Por isso mantemos a capacitação dos nossos profissionais médicos e de enfermagem para que estejam sempre em alerta para a doença", reforçou Luciana ao lembrar de capacitação realizada por ela na última semana onde participaram mais de 50 profissionais.

Segundo Luciana, manchas esbranquiçadas e posteriormente avermelhadas, e alteração na sensibilidade da pele são algumas características da hanseníase
DIAGNÓSTICO – O diagnóstico da hanseníase é principalmente clínico, realizado por meio do exame geral e dermatoneurológico para identificar lesões ou áreas de pele com alterações de sensibilidade e comprometimento de nervos periféricos, com alterações sensitivas, motoras e autonômicas. A suspeição é feita pelos profissionais das Unidades Básicas de Saúde (UBS), na Atenção Primária, o paciente é encaminhado ao Cedic onde será confirmado ou não o diagnóstico.

Equipe do Cedic, da SMS, que trabalha nas ações da campanha Janeiro Roxo 2023
TRATAMENTO – O SUS disponibiliza o tratamento e acompanhamento da doença em UBSs e nas unidades de referência. Os medicamentos são seguros e eficazes. Já no primeiro mês de tratamento a doença deixa de ser transmitida. O tratamento é pela poliquimioterapia, que contempla três medicamentos e está disponível nas apresentações adulto e infantil, disponibilizados de forma gratuita e exclusiva no SUS. "Com a medicação, evita-se que o bacilo se alastre para outras partes do corpo e bloqueie o processo de dano no organismo do paciente. Às vezes, este combate do organismo pode acontecer de forma a inflamar os nervos, gerando dor pelo corpo e podendo deixar sequelas, se não diagnosticado e tratado de forma adequada. O tratamento precoce pode evitar que o bacilo ataque o sistema neurológico onde as sequelas podem ser mais graves e até permanentes. O Cedic fornece exame, diagnóstico, tratamento e acompanhamento fisioterápico. Nosso Laboratório Municipal é referência de qualidade no diagnóstico da hanseníase", reforça a médica.
O tratamento pode durar por cerca de seis ou 12 meses e a cura é clínica e laboratorial. "Apesar disso, acontece monitoramento posterior dos pacientes, de forma anual. Ressalto, também, que a vacina BCG não evita o contágio pela doença, porém evita que a doença se apresente de forma mais intensa ou grave, além de ser menos transmissível. A partir do primeiro mês de tratamento, o paciente não transmite mais a doença e pode seguir com sua rotina de trabalho, mas normalmente, também chamamos os contactantes domiciliares e sociais – escola e trabalho, por exemplo – para avaliação, desde que haja o consentimento e colaboração do paciente", finaliza a especialista.
