Acontece amanhã, 18/02, a partir das 9h, na Capela São Miguel Arcanjo, localizada no Cemitério da Saudade, missa de entronização das imagens do padroeiro da capela, São Miguel Arcanjo; do padroeiro de Piracicaba, Santo Antônio, e da padroeira do Brasil, Nossa Senhora Aparecida. A missa será celebrada pelo vigário-geral da Diocese e pároco da catedral, monsenhor Ronaldo Francisco Aguarelli, e será concelebrada pelo padre e coordenador diocesano de Pastoral, Kleber Fernandes Danelon e pelo pároco da paróquia Senho Bom Jesus do Monte, padre Antônio Célio Costa Francisco. O rito de entronização ainda contará com a participação do Coral Vox Cenaculi. A entronização das imagens, que tem como um de seus significados a colocação de imagens sacras em lugar de honra ou altar, foi motivada por um contato entre a administração do Cemitério da Saudade e a Diocese de Piracicaba. A Capela, de 1910, estava há tempos sem a imagem de seu padroeiro, que foi roubada, conforme explica Danelon. Após este contato iniciado pela administração, que quer reativar o turismo cemiterial e por isso requalificar espaços como a Capela, alguns padres se reuniram e compraram as imagens, que serão entronizadas amanhã. A CAPELA – A Capela de São Miguel Arcanjo do Cemitério da Saudade foi construída em 1910. Seu projeto é neoclassista, conforme explica o arquiteto Marcelo Cachioni, diretor do Departamento de Patrimônio Histórico do Instituto de Pesquisas e Planejamento de Piracicaba (Ipplap). Os detalhes arquitetônicos da obra, inclusive, constam do mestrado do arquiteto. Ela foi construída na avenida principal, a alguns metros do Portal de entrada. Após anos de abandono, foi reformada em 2000.
Atualmente acontece na capela uma missa mensal, sempre na primeira segunda-feira do mês, às 7h, realizada pela Paróquia Bom Jesus do Monte e também acontece um terço mensal, realizado pelos Vicentinos, que rezam pelas almas dos fiéis defuntos, sempre no primeiro domingo, às 8h.
O CEMITÉRIO – O Cemitério da Saudade, originalmente, era um cemitério protestante, criado em 22 de janeiro de 1860. À época – segundo informações contidas no Catálogo da Exposição Itinerante Desenhando o Patrimônio Cultural de Piracicaba, editado pelo Ipplap – protestantes não podiam ser enterrados em cemitérios católicos. Doze anos após sua "inauguração", em 2 de dezembro de 1872, tornou-se municipal e público, tendo como marca da data o sepultamento da escrava Gertrudes. Sua municipalização, porém, não derrubou a questão de separação de mortos por credo: foi construído um muro para separar os católicos e os protestantes. Este muro durou até a proposição, em 1906, pelo vereador Francisco Morato, de construção do portal de entrada, projetado pelo arquiteto italiano Serafino Corso, que lá está sepultado, e construído por Carlos Zanotta. O mural tem inspiração no Arco do Triunfo clássico.
Sua atual estrutura também é daquele tempo. Foi neste período que Aquilino José Pacheco (que foi intendente do município em três ocasiões 1899/1900, em 1901 e em 1904) ordenou os túmulos, colocou guias e sarjetas e drenou as águas pluviais, que causavam erosão e infiltrações nas sepulturas. Já a denominação Cemitério da Saudade é bem posterior, de 1953.
O cemitério ocupa uma área de 145 mil metros quadrados. Tem 20 mil túmulos, 90 quadras, 1 avenida, 12 ruas e 11 travessas (de A a K), guarda 124 mil restos mortais e realiza aproximadamente 1.000 sepultamentos por ano.
MUSEU A CÉU ABERTO – Conhecer os mortos, a importância que tiveram na cidade é uma forma de estudar história. É o que aposta Elaine Moraes Bargiela Seguezzi, responsável pelos cemitérios municipais da Saudade, Vila Rezende e Ibitiruna, que tomou a iniciativa de procurar a Diocese para entronização das imagens e assim resgatar a história do Cemitério da Saudade e dar continuidade ao projeto de preservação do Patrimônio Histórico de Piracicaba. Segundo Elaine, há grande procura pelos livros dos mortos lá enterrados e para conhecer sepulturas de personalidades e também de sepultados que alguns acreditam promover milagres. "É um museu a céu aberto, que merece visitas", enfatiza.
Dentre as personalidades enterradas no cemitério estão o primeiro presidente civil do Brasil, Prudente José de Moraes Barros. Da mesma família, estão lá Manoel Moraes Barros e seu filho Paulo de Moraes Barros, todos políticos brasileiros. Também foram sepultados no Saudade o pintor Almeida Júnior e o médico Alfredo José Cardoso, reconhecido pelo seu trabalho caridoso, cujo túmulo é bastante visitado.
Bastante visitada também é a sepultura de Nelson Machado Sant'Ana, conhecido como Menino da Chupeta. Segundo histórias, Nelson, que morreu depois se engasgar com uma chupeta, realiza milagres. Outras personalidades lá enterradas são o comendador Luciano Guidotti e Maria Benedicta Penezzi, a Ditinha, primeira mulher – e negra – a ocupar uma cadeira na Câmara. Além deles, há muitos outros, que permeiam a história piracicabana e também brasileira.
Uma história bem curiosa é de um túmulo encravado no meio de uma das ruas. É o túmulo do Padre Galvão, cujo caixão caiu no meio do cortejo e, pelo que conta a lenda, colou no chão, não sendo possível mais tirá-lo de lá. No local mesmo foi erigido o seu túmulo.