Uma horta orgânica – devidamente adubada com húmus e esterco – é cultivada há pelo menos três meses por usuários do Centro Pop (Centro de Referência Especializado de Assistência Social para População em Situação de Rua). No local podem ser colhidos quiabo, pimenta, couve, repolho, alface, cebolinha, rabanete, beterraba, espinafre, acelga, tomate e morango. A elaboração da horta integra as oficinas de terapia ocupacional realizadas no serviço, que é ligado à Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social (Semdes).

Edvaldo Oliveira mostra mudas de alface produzidas na horta: cidadania

Tudo começou com a necessidade de se pensar uma atividade atrativa para o público masculino, que majoritariamente é frequentador do serviço. “Nós achamos que uma horta seria legal. Tínhamos o espaço, só precisava ter a grama retirada para começar a plantação. Os usuários toparam e nós começamos a cultivar”, explica Marina Fracasse de Barros, terapeuta ocupacional responsável pelo trabalho.

O cultivo, porém, já ultrapassou as horas das oficinas, que acontecem às terças e quintas no período da manhã. O desenvolvimento da atividade acaba sendo rotina aos 12 usuários que abraçaram a ideia – eles regam, adubam, retiram matinhos, deixam tudo organizado e limpo. E já viram uma primeira produção sair do pedaço de terra e das caixas adaptadas para receberem as mudas. Deste primeiro resultado material saíram as hortaliças para o lanche que comem no serviço, além da doação para o restaurante popular onde frequentemente almoçam, bem como da doação da grama para a instituição Aliança da Misericórdia.

Fernando Benedito Aléssio poda arbusto em terreno da horta

Como primeiros resultados terapêuticos, os ganhos ainda foram maiores, conforme explica Marina “Depois que eles começaram a cuidar da horta, a questão do uso de drogas e álcool diminuiu bastante. Porque eles vêm para cá sabendo o que vão fazer. Eles tentam não usar para estar bem, para poder cuidar corretamente. Quando estão aqui dentro, aprendendo alguma coisa, fazendo algo significativo, a gente está trabalhando com redução de danos.”

Para Solange Spironelo, coordenadora do Centro, a horta tem um componente simbólico muito forte, além de terapêutico, pois “desenvolve habilidade, resgata questões do tempo, espera e dos cuidados, além do que o semear, plantar e colher são frutos para o corpo e para alma”.

Dentre os propósitos da oficina terapêutica, ainda existe a questão da horta ser orgânica, frisa Marina. “A gente faz este exercício de busca por esterco, por húmus – e contamos com os usuários para conseguir – pois queremos trabalhar com eles também esta questão do hábito saudável, da não agressão à natureza, da importância de escolher um alimento que tenha uma origem mais segura.”

Fernando Benedito Aléssio e Edvaldo Oliveira, dois dos responsáveis pelo cultivo e manutenção, compartilham da opinião sobre a importância da horta como espaço para o aprendizado de uma profissão em que, em algum momento, eles possam ganhar dinheiro com isso. “Se nós tivéssemos mais espaço ainda, poderíamos ter parte do nosso sustento retirado deste cultivo”, explica Oliveira, de 43 anos. Ele trabalha ocasionalmente na construção civil, mas desde 2012 está na rua por não ter como pagar um lugar para morar. “A gente quer trabalhar”, diz Aléssio, que vive de bicos diversos e também está na rua porque não tem dinheiro para o aluguel.

FLORES – Juntamente com a produção da horta, os usuários pensaram também em deixar o Centro Pop mais bonito e plantaram no canteiro, próximo aos muros da sede, diversas espécies de plantas. O jardim, cuidadosamente plantado pelo usuário Sílvio Targino, tem margaridas, girassol, flor-do-papai e amor-perfeito.