Compartilhar uma importante mitologia, fundadora do pensamento ocidental, e os modos de criação do Grupo [pH2]: Estrado de Teatro é o que propõe a oficina Do Mito à Cena, que acontece no domingo (30), das 10h às 13h, na Sala 2 do Teatro Municipal Dr. Losso Netto. Com 30 vagas disponíveis, esta que é uma atividade paralela do Cenas sem Fronteiras do 6º Fentepira (Festival Nacional de Teatro de Piracicaba), tem como público alvo estudantes, estudantes de teatro, atores, diretores, artistas teatrais e interessados em geral.

O Grupo [pH2] participa também da mostra oficial do Fentepira, com o espetáculo Átridas (apresentação às 20h de 29 de outubro, na Sala 1 do Teatro Municipal). É por meio do enredo desta peça que dois profissionais da trupe vão propor um exercício criativo que estabeleça um ambiente criativo e de troca. Os participantes também serão convidados à elaboração de breves experimentos cênicos com vivências de escrita e de cena a partir da referência do pensamento grego, utilizando como disparador o mito Orestéia e a observação das formas da manifestação trágica no mundo contemporâneo.

A primeira etapa da oficina, intitulada Orestéia: aproximação e apropriação, consiste na apresentação do mito Orestéia aos participantes. Os artistas orientadores irão narrar o mito e apresentar comentários e convidar ao levantamento dos aspectos estruturais pertencentes ao mito como: maldição familiar, influência dos deuses, momentos de peripécia, fim trágico, etc.

Os participantes serão, então, distribuídos em grupos de três a quatro pessoas e convidados à recriação do mito, por escrito, atentando para os aspectos estruturais e dando vazão às aproximações em relação ao cotidiano dos participantes, e à livre criação. Após, os textos serão recolhidos pelos artistas e serão utilizados na última etapa.

Na segunda etapa, denominada Procedimentos de apropriação interpretativa, o foco será o trabalho do ator. Os artistas-orientadores desenvolverão com os participantes procedimentos de criação de personagens tomando como referência aspectos das figuras míticas Agamêmnon, Clitmnestra, Orestes, Electra, Ifigênia, Cassandra e Egisto. Para isto, serão distribuídos breves textos descritivos e provocativos, que foram desenvolvidos pelo dramaturgo durante o processo criativo do espetáculo. Desta vivência, serão criadas partituras corporais que apresentem os traços particulares de criação e apropriação das figuras trágicas.

A etapa final consiste na criação de cenas a partir de indicações dos artistas-orientadores e da criação em equipe. Os participantes, em grupos, serão convidados, cada, a desenvolver uma cena a partir do roteiro apresentado, propondo o espaço, o modo de apresentação temporal dos acontecimentos do roteiro e os traços experimentados durante a segunda etapa. Os grupos irão apresentar suas cenas e serão convidados à uma roda de conversa para a troca de impressões.

O MITO – Orestéia é uma trilogia de textos dramáticos escrito pelo dramaturgo grego Ésquilo que narra o término da mitologia da família de Atreu – família, amaldiçoada pelos deuses, que ao longo muitas gerações viu na manifestação trágica sua existência.

Narrando o ciclo final do destino trágico da família de Atreu, a Orestéia relata o círculo familiar composto pelo rei de Micenas Agamêmnon, sua esposa Clitemnestra e os três filhos Ifigênia, Electra e Orestes. O destino trágico desta geração inicia-se com a partida do rei Agamêmnon para Tróia – iniciando a guerra que perduraria cerca de 10 anos.

Porém, logo seus navios são impedidos de continuarem a viagem, pois o vento não soprava e assim são obrigados a aportarem em Áulis e lá permanecem por muito tempo. Desejando provar sua determinação de realizar a guerra, a deusa Ártemis anuncia que os ventos voltariam a soprar se uma inocente fosse sacrificada.

Agamêmnon decide entregar sua filha primogênita Ifigênia e sendo enviada a Áulis por uma simulação – o suposto casamento com o guerreiro Aquiles – a jovem é executada e todos os navios, então, partem para Tróia.

Dez anos se passam, tendo nascido na esposa Clitemnestra o sentimento de vingança. Durante o período de espera, une-se à Egisto – primo de Agamêmnon e fruto de incesto – tornado ele seu amante. Quando o rei Agamêmnon retorna de Tróia é recebido com pompas e honrarias, porém logo ao adentrar os aposentos reais é assassinado por Egisto.

Temendo a vida do irmão, único a poder vingar a morte de seu pai, Electra envia seu irmão Orestes, ainda pequeno, para outra cidade. Lá ele permanece, até tornar-se adulto, retornando para Micenas e executando seu destino e vingança: mata sua mãe Clitemnestra e o amante Egisto.

Orestes, então passa a ser perseguido pelas Erínias – as Fúrias – forças vingativas, encarregadas de punir os crimes de sangue dos mortais e convocadas por uma maldição de vingança lançada por Clitemnestra antes de morrer. Longa torna-se sua fuga das Erínias, até que as forças da conciliação as Eumênides clamam à deusa Atena a favor de Orestes. A contenda termina quando a deusa Atena – ou Minerva – intercede por Orestes, em uma votação empatada, absolvendo-o da maldição e finalizando o destino trágico da família de Atreu.

O grupo buscou encontrar os caminhos que através desta mitologia pudessem elucidar e provocar pensamentos e formas cênicas acerca de temas relacionados ao nosso tempo como: a crise entre as gerações; o olhar diferenciado frente à noções de grandeza; e, as ações humanas vistas constantemente em situações-limite e a deflagração do destino paradoxal frente aos anseios de mudanças e/ou negação da manifestação trágica em nosso tempo.

SERVIÇO – Cenas sem Fronteiras do 6º Fentepira, com a oficina do Mito à Cena. Domingo, 30 de outubro, das 10h às 13h, no Teatro Municipal Dr. Losso Netto (avenida Independência, 277, Centro). 30 vagas. Mais detalhes e programação completa no site oficial www.fentepira.com.br e no blog www.fentepira.wordpress.com. Redes sociais: Facebook (Fentepira Piracicaba) e Twitter (@fentepira). Outras informações: (19) 3433-4952.