A comissão organizadora do 8º Fentepira (Festival Nacional de Teatro de Piracicaba) divulga os números oficiais da mostra, realizada de 1 a 10 de novembro pela Semac (Secretaria Municipal da Ação Cultural). As 21 atrações gratuitas tiveram a presença de 3.447 pessoas nos oito palcos da cidade.
Curador da oitava edição, o ator e diretor Roberto Rosa lembra que os 10 espetáculos da mostra oficial, selecionados entre 217 inscrições de 15 Estados, foram constituídos com um painel de estilos e linguagens. “Todos os grupos participantes buscam uma identidade própria no campo da estética, da dramaturgia ou do trabalho de ator.”
Os espetáculos da mostra principal foram acompanhados por uma comissão debatedora, formada por Alexandre Mate, doutor em história social e professor do Instituto de Artes da Universidade Estadual Paulista (Unesp), e a dramaturga Ana Souto, mestre em multimeios pela Unicamp (Universidade Estadual de Campinas). Após cada apresentação, eles participaram de bate-papos com as companhias e plateia.
Pelo quarto ano como debatedor do Festival, Alexandre Mate disse que os espetáculos representaram um presente para a cidade e para os apreciadores de teatro. “Foi uma seleção extremamente significativa, que contemplou diferentes possibilidades de experimentação. As relações propostas pelo teatro são diferenciadas e, portanto, tivemos um conjunto qualitativo na mostra.”
Ana Souto classificou o Fentepira como “modelar”. “Está pronto para ser uma ferramenta de gestão, no sentido de tornar-se um programa de fomento, de formação de público. Para quem trabalha pela arte pública, que se preocupa com o teatro voltado para a cidadania, é essencial recuperar a relação com o público com ‘p’ maiúsculo, que é diferente de público com ‘p’ minúsculo, caracterizado apenas como um consumidor.”
A atriz Yonara Marques, que encerrou a mostra oficial com o espetáculo Júlia na área externa entre os Armazéns 7A e 7B do Engenho Central, elogiou a acolhida do público. “O piracicabano é um povo querido. O Fentepira é o espaço que os grupos precisam para mostrar o seu trabalho. É uma grande vitrine”, apontou a atriz, integrante da trupe catarinense Cirquinho do Revirado com o ator Reveraldo Joaquim. Eles participaram do 2º Fentepira, em 2007, com Amor por Anexins.
BATE-PAPOS – A comissão debatedora teceu elogios aos bate-papos e disse ter ficado evidente, em comparação às edições anteriores, maior interesse do público nas discussões pós-espetáculos. Em média, cada debate teve 60 pessoas.
Para Mate, parte considerável da participação nos bate-papos foi de pessoas que não estão ligadas às artes cênicas. “O teatro é caracterizado por uma linguagem complexa. Ao participar do debate, a pessoa amplia as possibilidades de leitura do fenômeno teatral. O Fentepira promove um trabalho de formação de público, o que eu vejo com bons olhos.”
É também o que pensa o engenheiro mecânico Melquizedeque Nunes de Oliveira, de Limeira. Das quatro montagens que esteve presente, permaneceu em todos os debates. “A peça fica mais clara para quem a assistiu. É importante entender o processo de pesquisa dos atores e conhecer a o desenvolvimento dos espetáculos.”
Filha de atores, a estudante Laura Sarcedo, 14, prestigiou oito das 21 atrações, incluindo as peças de abertura e encerramento, além dos bate-papos. “A gente precisa aproveitar que cidade oferece um Festival desse porte. Gosto muito de teatro e não o vejo apenas como lazer ou entretenimento, pois traz vários ensinamentos para a vida.”
DIVERSIDADE – Distribuída em 10 montagens na mostra principal, cinco peças convidadas e seis ações paralelas, a programação contou com grupos de São Luis (MA), Belo Horizonte (MG) e Criciúma (SC). De São Paulo, além da capital, participaram trupes de Campinas, Ribeirão Preto, Jundiaí, Atibaia, Francisco Morato e Piracicaba.
Criado para estimular a criação artística, a inovação criativa, a valorização da arte teatral e fomentar a discussão sobre o fazer teatral, o Fentepira faz parte do calendário oficial do município, por meio da lei 6.072/2007. “A cada ano, sentimos aumentar a acolhida do piracicabano e das pessoas da região. É por isso que pensamos o Festival como uma política pública, sempre com entrada gratuita para garantir o acesso de diferentes públicos”, diz Rosângela Camolese, secretária da Ação Cultural.
Uma das características do 8º Fentepira foi a ocupação de espaços intimistas para encenação dos espetáculos, como o Ponto Arte Garapa, com capacidade para 50 lugares e que abrigou a aula-espetáculo com Ilo Krugli, o espetáculo Curra – Temperos sobre Medéia e Ara Pyau. Houve ainda a Capelinha do Engenho Central, restrita a 60 lugares, palco de Oração para um Pé de Chinelo, e o Centro Cultural Martha Watts, com 50 lugares para A Lira de Romeu e Julieta.
Esta também foi a primeira vez que o Teatro Erotídes de Campos concentrou sete das 21 peças da programação: B.O. – Uma Lenda Urbana Humana, da Cia. 6Dois; 3 é Bom, 2 é Demais, do Grupo Zibaldoni; 180 Dias de Inverno, da Cia. Afeta; O Rio, do Teatro Didático da Unesp e Teatro Brancaleone; e Agda, da Boa Companhia e Matula Teatro. Pelo projeto Diversão em Cena, da Arcelor Mittal, foram dois infantis: Paulistinhas, dos Trovadores Mirins, e A Cortina de Babá, do Sobrevento.
O Teatro Ventoforte, grupo paulistano com quatro décadas de existência, apresentou duas montagens: Ladeira da Memória ou Labirinto da Cidade, no Teatro Unimep, e As 4 Chaves, espetáculo de abertura oficial na Praça José Bonifácio, que abrigou também As Presepadas de Damião, da Cia. Honesta, e a Ópera do Trabalho, do grupo Buráculo d’Oráculo.
O Sesi Piracicaba, na Vila Industrial, recepcionou as montagens Pai e Filho, da Pequena Companhia; Marcelo, Marmelo, Martelo, da Cia. Paulista de Artes; e O Menino que Mordeu Picasso, da Charge Produções Culturais.
O 8º Fentepira foi realizado com o apoio do Sesi Piracicaba, Tusp Piracicaba, Senac Piracicaba, Apite! (Associação Piracicabana de Teatro), Unimep, Secretaria Municipal de Educação, Ponto Arte Garapa e Centro de Comunicação Social.