O 10º Fentepira (Festival Nacional de Teatro de Piracicaba) e a 22ª Mostra de Teatro Estudantil, realizados de 3 a 15 de novembro, receberam 5.970 espectadores. As 43 ações gratuitas, espalhadas por 10 espaços, confirmam a vocação dos eventos: apresentar um painel de estilos e linguagens, provocar reflexões entre grupos e público e popularizar as artes cênicas na cidade.

Realizado pela Prefeitura do Município de Piracicaba, por meio da Semac (Secretaria Municipal da Ação Cultural) e com o apoio de entidades, o Fentepira recebeu 4.200 pessoas entre os dias 7 e 15, nas 11 encenações da mostra oficial, três apresentações de peças convidadas, duas montagens paralelas e duas pelo projeto Diversão em Cena, três oficinas e o cortejo de abertura do Baque Caipira. A Mostra Estudantil, de 3 a 6 de novembro, concentrou 1.770 espectadores nas 21 peças de Piracicaba, Quadra, Boituva, Valinhos e Sumaré.

Os curadores do Fentepira, Valdir Rivaben e Jorge Vermelho, selecionaram para a mostra oficial grupos de Distrito Federal, Santa Catarina e São Paulo (da capital, Sorocaba e Piracicaba), entre os 253 inscritos, de 75 cidades. Após a apresentação dos espetáculos, os grupos e o público participaram de debates com Alexandre Mate e Aguinaldo de Souza, sob mediação de Rivaben.

Diversidade e potência. As palavras-chave nortearam a curadoria, que encontrou produções de coletivos consolidados em suas áreas e propostas inovadoras. Para Rivaben, houve forte sincronia entre ele e Vermelho. “Eu sempre me coloco como espectador e sinto orgulho desta curadoria, que contemplou espetáculos potentes em suas pesquisas e linguagens”.

Pesquisador teatral e professor do Instituto de Artes da Unesp, o doutor em história social Alexandre Mate participa do Fentepira há seis anos. Ele elogiou os curadores por considerar tratamentos estético-teatrais distintos e disse que os espetáculos contribuem na formação de público. “O povo piracicabano é muito receptivo e camarada. O que caracteriza este evento é a qualidade das pessoas que dele participam.”

O bailarino, performer, ator e diretor Aguinaldo de Souza disse que a mostra passou por linguagens tradicionais renovadas e espetáculos experimentais. “Vi aspectos da tradição, da modernidade e de um futuro. É o olhar de algo que sabe de onde vem, por compreender a tradição, e que se anuncia como uma possibilidade de revolução.”

Dos dez grupos selecionados para a mostra oficial, três são piracicabanos: a Cia. D’Vergente, com Muda por Amor, na Casa do Povoador; Grupo Forfé, com Degredo, no Teatro do Engenho; e a Cia. Te-Ato, com Lodo, no Armazém 14 do Engenho. Para Mate, “Piracicaba tem um bom teatro e isso decorre, também, do Fentepira, que cria a possibilidade de os criadores terem acesso a um conjunto múltiplo nas edições do Festival.”

Já Aguinaldo analisa os espetáculos infantis – Simbad, O Navegante, do Circo Mínimo (São Paulo), apresentado no Teatro do Engenho, e Um, Dois, Três: Alice!, da Téspis Cia. de Teatro (Itajaí/SC), encenado no Teatro do Sesc. ”Eles não tratam a criança como alguém que precisa ser treinada para uma vida careta, mas uma inteligência a ser estimulada e uma perspectiva de vida a ser desenvolvida”, disse o professor do curso de artes cênicas da UEL, em Londrina.

Mate, que produziu 10 leituras críticas dos espetáculos da mostra oficial, acredita que é possível sentir a evolução do Festival a cada edição, em especial nos debates. Para Aguinaldo, são momentos de consonância e de conflito. “Nada foi óbvio, nada foi raso e nada foi gratuito. Não foi sonífero, foi estimulante. Os debates são momentos necessários para o questionamento da arte”, definiu Aguinaldo.

A secretária Rosângela Camolese destaca as sessões ao ar livre: na praça José Bonifácio teve Tekohá, do Imaginário Maracangalha, do Mato Grosso do Sul, e São Jorge Menino, da Cia. São Jorge (SP). A Trupe Lona Preta (SP) encenou O Concerto da Lona Preta, entre os Armazéns 7A e 7B do Engenho Central. “O Fentepira integra o Calendário Oficial de Eventos de Piracicaba. Sua realização é assegurada por lei municipal e o tratamos como política pública de inclusão por meio da arte.”

ESTRELAS – A vontade em expor a pesquisa do teatro não-realista motivou o Katharsis a se inscrever no Fentepira. O grupo de Sorocaba apresentou As Estrelas são para Sempre? no Teatro Erotídes de Campos. Diretor e autor da peça, Roberto Gill Camargo diz que os festivais de teatro têm valores inestimáveis. “A arte é complicada por natureza, mas aponta caminhos, dá esperança e enche os corações de alegria e paz.”

A mostra oficial teve ainda os espetáculos Cartas Libanesas, de Eduardo Mossri (SP), no Sesi; Abnegação, do Tablado de Arruar (SP), no Teatro do Engenho e no Ponto de Cultura Garapa; Misanthrofreak, do Grupo Desvio (Brasília/DF), no Teatro do Engenho, que recebeu ainda Em Busca do Ingrediente Secreto, da Chica e Olga Ateliê de Criações (SP), e Carnaval dos Animais, do Grupo Giramundo (MG), ambos pelo projeto Diversão em Cena, da ArcelorMittal.

Dois espetáculos foram incluídos nas atividades paralelas: DuoElo, no Sesi, pelo Núcleo de Artes Cênicas do Sesi Campinas Amoreiras, e O Violino de Titanic, no Sesc, a partir do workshop homônimo com o diretor italiano Pietro Floridia. A programação contou com as oficinas Teatro de Rua: Diálogos e Protagonismo, do Imaginário Maracangalha, na Casa do Hip Hop, e Ao Coro Retornarás, com a Cia. São Jorge, no Senac.

O 10º Fentepira e a 22ª Mostra de Teatro Estudantil foram realizados pela Prefeitura de Piracicaba, por meio da Semac, em parceria o Sesc, Sesi, Senac, Unimep (Universidade Metodista de Piracicaba), Colégio Piracicabano, Poiesis – Organização Social de Cultura, Ponto de Cultura Garapa, Apite! (Associação Piracicabana de Teatro), CoMCult (Conselho Municipal de Cultura), Associação Cultural e Teatral Guarantã, Jornal de Piracicaba, Revista Arraso, Secretaria Municipal de Educação e Rádio Educativa FM.