Estudar, trabalhar e sair da rua: desejos para 2018
Emerson, no Centro Pop, estudando para a conclusão do ensino médio
Piracicaba, 28 de dezembro de 2017 – No final do ano, quando todos fazem planos para um ano-novo com novas conquistas e cumprimento de promessas, as pessoas em situação de rua também sonham e se empenham para cumprir as perspectivas que se propõe.
Cursar faculdade, arranjar trabalho e sair da situação de rua são as expectativas para 2018 de Emerson Soares da Silva. Para conquistar o almejado, Silva vem batalhando dia-a-dia. Em 2017 voltou aos bancos escolares e até já participou da formatura do ensino médio, que pretende concluir já em fevereiro.
Com o diploma em mãos, acredita conseguir um emprego que o permita trabalhar, apesar da deficiência adquirida num acidente de moto, que o incapacitou para as profissões que já exerceu. “Já fui ao CAT (centro de apoio ao trabalhador) várias vezes, mas os empregos que não exigem formação, minha deficiência não permite realizar”. Caldereiro de formação e com uma carteira de trabalho com serviços em metalurgia em empresas da cidade, está em situação de rua há pelo menos um ano, quando faltou o dinheiro para o aluguel após o benefício que recebia do INSS (Instituto Nacional do Seguro Social) ser suspenso. Obstinado, voltou a estudar para concluir o ensino médio e tem nos livros sua companhia diária, já que sonha para 2018 com a faculdade, que pode ser a de serviço social. Das superações e desafios, Silva enfrenta dois com a ajuda da rede socioassistencial. Frequentador do Caps-AD (Centro de Atenção Psicossocial – Álcool e Drogas), está em recuperação do uso de drogas lícitas, como o álcool, e ilícitas, como a cocaína, e tem a consciência de como elas já atrapalharam seu caminho. Com um dia de cada vez, pretende novamente estreitar vínculos com a família, para que supere a situação de rua.
As batalhas e conquistas de Silva são um alento para o Centro Pop (Centro de Referência para a População em Situação de Rua), serviço ligado à Secretaria Municipal de Assistência Social. Solange Spironello, assistente social e coordenadora do serviço, não consegue disfarçar a satisfação em vê-lo progredir com o auxílio da rede socioassistencial do município. “A rede socioassistencial tem uma grande colaboração no resgate da dignidade do Emerson, que usufrui da educação (supletivo), da saúde (Caps-AD) e da assistência social (Centro Pop e Casa de Passagem). É por isso que fortalecê-la é importante para que as pessoas tenham oportunidade de uma vida melhor” A caminhada de Silva também inclui a participação na luta pela garantia de direitos. Ele participou este ano, como delegado, das Conferências Municipal e Estadual da Assistência Social, dando suas contribuições para a importância da efetividade e aprofundamento das políticas socioassistenciais no sentido de gerar oportunidades para uma melhor qualidade de vida para os usuários dos serviços da rede.
Sonho de muitos – O sonho de Silva não é isolado. D.J.S.F também quer voltar a estudar, para depois trabalhar e assim tentar superar a situação de rua, mas enfrenta nas procuras diárias por trabalho o estigma de estar em situação de rua. “Quando perguntam nosso endereço e passamos o do POP, as pessoas já nos excluem da vaga. Quero voltar a estudar para conseguir um emprego, já que até para porteiro pedem o ensino médio”. F, que já foi monitor de compras, deixou os estudos precocemente porque não dava conta de trabalhar e estudar. Saiu de casa, por conflitos familiares e uso de drogas, há sete anos. Hoje ele vive de olhar carros, já que ainda não conseguiu emprego e, apesar de não cobrir nem metade do que precisa, prefere viver assim, do que traficar, o que lhe rendeu mais de um ano de cadeia. Há três meses voltou às ruas e conheceu o Centro Pop, que lhe ajudou a retirar os documentos e sempre o encaminha para oportunidades de emprego. “Quando me formar, quero tentar ser borracheiro”, explica.
Centro POP – O Centro Pop, que funciona das 8h às 14h, de segunda a sexta-feira, é um serviço destinado às pessoas que utilizam as ruas como espaço de moradia e/ou sobrevivência. Funciona no sistema portas abertas, que significa que a pessoa em situação de rua pode chegar e utilizar. No local, os usuários podem fazer higiene pessoal, lavar roupas e fazer lanches, além de terem atendimento técnico de assistência social e terapia ocupacional.
Durante o atendimento com a assistência social, é buscada a origem da pessoa, se ela tem conflitos familiares, como é a dinâmica familiar. Tudo isso é feito para ver qual encaminhamento o Centro poderá fazer: a reinserção familiar, o encaminhamento ao mercado de trabalho, ao EJA (Educação para Jovens e Adultos) e a cursos profissionalizantes, como por exemplo os ofertados pelos Caof’s (Centros de Artes e Ofícios). Além destes encaminhamentos, o Centro auxilia na retirada de documentos e no retorno à cidade de origem, para migrantes, por exemplo.
Centro de Comunicação Social
Sabrina Rodrigues Bologna: 31076
