No final de maio de 2007, o instituto Adolfo Lutz parou de analisar os casos de suspeita de dengue no estado. Tão grande era a quantidade de amostras que chegavam das cidades da região que travou o sistema de atendimento. Só de Piracicaba foram encaminhadas mais de três mil. Até hoje existem ainda resultados pendentes, o que impede o balanço final do ano todo. Mas só de Piracicaba foram encaminhados mais de seis mil. Essa situação alarmante da epidemia provocada pela aedes aegypti não foi motivo para colocar a equipe do Centro de Controle de Zoonose (CCZ) em desespero. Muito pelo contrário. No segundo semestre foi iniciado um trabalho minucioso para entender o que estava acontecendo. A CCZ montou uma nova estratégia de ação e foi à luta. E não é que o resultado surpreendeu? Até ontem, o banco de dados da vigilância Epidemiológica registrava apenas 44 casos suspeitos, uma queda de mais de 100 vezes de um ano para outro.Reinaldo Rodela, técnico da CCZ colocou sua experiência em ação e fez um mapeamento estratificado de todos os bairros para saber onde a situação era crítica e onde o risco de dengue era menor. “Ele levou em consideração uma série histórica de dez anos de infestação na cidade e cruzou esse histórico com dados sobre as características de cada bairro, levando em consideração o Índice de Desenvolvimento Humano, a renda per capta, o grau de escolaridade dos moradores, a existência de áreas verdes, terrenos baldios, além de pontos estratégicos, como borracharias e desmanches de carros. Isso gerou um documento e um mapa que classificava os bairros por cores. Vermelha eram as áreas críticas, amarela, as de alto risco, e verde, de risco”, explica André Luis Rossetto, encarregado de equipe do CCZ.Com as informações em mãos, as equipes atacaram primeiro as áreas vermelhas. Usaram também alguns recursos extras que não haviam sido colocados em prática na dimensão necessária nos anos anteriores, como é o caso do monitoramento por armadilhas, para identificar a chegada do mosquito, e uma equipe exclusiva para ações imediatas em casos de criadouros específicos. “Se fosse necessário furar os vasos, a gente furava. E furamos mais de 12 mil. Se precisasse colocar tampa em caixa d’água, a equipe colocava. E descobrimos 300 delas sem tampa. Se fosse necessário furar laje, a equipe estava lá com a máquina, a broca e furava. Se fosse necessário desentupir um ralo, não havia corpo mole. A regra era não deixar nada para trás”, detalha Rossetto.A força-tarefa se estendeu às escolas, igrejas e indústrias. “Percebemos que 30% dos imóveis visitados estavam fechados porque seus moradores estavam trabalhando. Então, a maneira de fazer chegar as informações até eles era ir direto ao trabalho”, conta. O trabalho sincronizado permitiu um domínio bem maior sobre o que estava acontecendo, porque havia também a equipe do arrastão, que retirou aproximadamente mil toneladas de entulho, sendo metade de criadouros. Logo em abril, quando foi feito o índice Breteau, que dá o índice larvário, o resultado animou. Deu metade do ano anterior. No mesmo período de 2007, o índice foi 13. Este ano, caiu para 6.Rossetto observa, no entanto, que não se deve abaixar a guarda para evitar surpresas desagradáveis. “No início do segundo semestre começam as reuniões para dimensionarmos o que faremos para aprimorar ainda mais o que foi feito”, diz. O sucesso da campanha, que iniciou em outubro de 2007, virou inclusive notícia na imprensa nacional, porque Piracicaba se tornou uma referência, sendo citada inclusive pela Superintendência de Controle de Endemias (Sucen) como exemplo a seguir. Para Rossetto, talvez a noção de referência ganhou peso porque todo o trabalho foi devidamente documentado e se tornou um plano minucioso de ação para combater a dengue em Piracicaba. “O fato de ter se tornado um plano de ação escrito e apresentado à comunidade é algo inédito no país”, conclui.