Há 1 ano e 4 meses em operação, o Consultório na Rua (CnaR), da Secretaria de Saúde, monitora hoje cerca de 250 moradores de rua ou em situação de rua. Criado em 21 de novembro de 2016, o equipamento segue a Política Nacional de Atenção Básica (PNBA), Portaria nº 2.488, de 21 de outubro de 2011, integrando o Departamento de Atenção Básica (DAB) com a Rede de Atenção Psicossocial (RAPS). O objetivo do CnaR é atuar frente aos diferentes problemas e necessidades de saúde dessa população específica.
Do total de pessoas cadastradas, 18% são mulheres e 82 %, homens. A maioria (70%) tem de 20 a 49 anos, faixa etária considerada economicamente produtiva. Quanto à escolaridade, apenas 12% (29 pessoas) completou o ensino básica. Questionados sobre o motivo que os levou a viver nas ruas da cidade, a maioria relata desentendimento familiar (44%).
O uso de substâncias psicoativas é muito prevalente nessa população, chegando a 92% dos usuários. Do total, 71% faz uso de álcool, devido ao baixo custo e aos problemas inerentes ao estilo de vida que levam. Dos usuários atendidos pelo CnaR, observa-se que a baixa escolaridade, antecedentes criminais e dependência de substâncias psicoativas dificultam a inserção e a manutenção no mercado de trabalho.
As principais doenças diagnosticadas entre eles são: hipertensão arterial, diabetes, doença cardíaca, doença respiratória, tuberculose, HIV, hepatite c, sífilis e transtorno mental.
SERVIÇOS – No intuito de ampliar e garantir o acesso dessa população aos serviços públicos de saúde, o CnaR desenvolve ações e eventos diversificados, dentre as quais estão as orientações sobre planejamento familiar, que inclui o aconselhamento do uso de anticoncepcional; vacinações diversas, como contra Hepatite, Tríplice Viral e dupla adulto e contra a gripe. Há ainda uma atuação ativa na busca e acompanhamento de gestantes em situação de rua; realização de curativos, aferição de pressão arterial, glicemia e orientações in loco sobre saúde bucal.
Para amenizar os danos causados pelo uso de substâncias psicoativas e introduzi-los no mundo da cultura, foi elaborado pelo CnaR, em 2017, o Projeto Sessão Cinema, são realizados periodicamente piqueniques no Horto Florestal de Tupi e momentos de contação de história, entre outras atividades em parceria com o Centro de Referência Especializado para População em Situação de Rua (Centro POP), Serviço Especializado de Abordagem Social (SEAS) e Centro de Atenção Psicossocial Álcool e Droga (CAPS AD). No campo da educação em saúde, são realizadas diversas palestras sobre higiene pessoal, tuberculose, saúde bucal e infecções sexualmente transmissíveis.
Dentre os agravantes para as ações do CnaR junto à população de rua estão a dificuldade de localização dessas pessoas, a recusa em dar continuidade aos tratamentos médicos, a não participação nos eventos e realização dos exames, além da falta de interesse em aderir aos serviços e ou ausência de pertencimento social e vinculação a rede. As principais ações e orientações realizadas são sempre focadas na redução de danos, incentivando os usuários na promoção de saúde e privilegiando a prevenção de agravos relacionados a sua condição de vulnerabilidade.
RETRATOS F C B, 40 anos. após denúncias ao (SEAS), FOI localizada Às margens da rodovia Piracicaba – Limeira, em condições higiênicas precárias. Estava enrolada em uma lona. Seu discurso era delirante e acelerado. Agressiva e sem documentos, se recusava a ser atendida. O SAMU e a Guarda Municipal foram solicitados e a paciente foi conduzida para avaliação e estabilização do seu quadro psiquiátrico na UPA – Vila Rezende. Após estabilização, chegou à Casa Dia e deu início ao tratamento no CAPS Bela Vista. Em articulação com os serviços da SEMDES, foi localizado seu irmão na cidade de Botucatu, que nos relatou que ela vinha da cidade de Russas, na Bahia, para encontrar os familiares em São Paulo. Após localização da família, seu irmão a levou para a casa dele.
L A O, 40 anos, com quadro de esquizofrenia, em péssimas condições de higiene, odor fétido, maltrapilho, cabelos compridos, fazia suas necessidades fisiológicas na roupa, se alimentava de lixo e, na ocasião, apresentava um discurso delirante. Foram tentadas várias vezes a abordagem e busca do usuário. A equipe do CnaR avaliou a necessidade de internação psiquiátrica. Providenciado o encaminhamento médico em articulação com o Ministério Publico (MP), atualmente, o paciente se encontra inserido na Residência Terapêutica, em função do histórico de longa internação psiquiátrica. Está sendo providenciada sua documentação e sendo feita busca ativa de seus familiares.