Como resistimos ou nos adaptamos ao tempo, ao poder e a morte? O 16º Fentepira (Festival Nacional de Teatro de Piracicaba) segue trazendo à tona temas reflexivos, todavia, de maneira poética, leve e, por vezes, engraçada. É isso o que mostra os espetáculos desta quinta (25) e sexta-feira (26): Quem Morreu?, do Grupo Andaime Teatro; e Ifigênia, do Teatro Trilha – respectivamente. As duas encenações serão transmitidas online e gratuitamente pelo canal oficial do evento no Youtube, às 20h.

O 16º Fentepira é promovido pela Prefeitura de Piracicaba, por meio da Semac (Secretaria Municipal de Ação Cultural). A edição de 2021 possui a direção de produção de Leonardo Moraes e contou com a curadoria de Thais Dias e Roberto Rosa. São debatedores da mostra oficial: Alexandre Mate, Caio Martinez e Paula Ibañez.

Quem Morreu? é o espetáculo que será encenado na quinta pelo grupo Andaime Teatro. Trata-se da história de um encontro que marca a vida das pessoas. Vidas despedaçadas por um tempo pandêmico, onde os seus mortos são conduzidos até o cemitério em caixões lacrados. Após alguns anos sem se verem, três velhos amigos partem para um inusitado encontro dentro deste ritual funesto para despedir-se de um ente querido. Três velhos amigos, três palhaços, três histórias que vão se confluindo.

A montagem é interpretada por Antônio Chapéu, Carlos Jerônimo e Márcio Abegão. A direção é de Esio Magalhães.

Quem morreu? é o espetáculo que será encenado na quinta pelo grupo Andaime Teatro- Divulgação

A peça foi feita na pandemia da Covid-19, após ter sido aprovada pelo programa estadual PROAC (Programa de Ação Cultural). "Inscrevemos um projeto sobre três velhos rabugentos. Nossa ideia era trabalharmos os três juntos, eu, o Jerônimo e o Chapéu, a partir da linguagem do palhaço, que já tínhamos feito há muitos anos. Quando o projeto foi contemplado, no início de 2020, tivemos que parar por causa da pandemia", contou Abegão.

Segundo o ator, o processo foi de construção do espetáculo junto ao diretor acabou sendo online. "Veio o isolamento e a gente discutia muito toda essa questão. Aí o Jerônimo começou a escrever o texto, depois que entrevistamos algumas pessoas da área do circo familiar, tradicional. Revisamos o texto e fizemos o que dava para fazer em conjunto. Fomos nos encontrar presencialmente com o Ésio Magalhaes a um mês antes da gravação do vídeo", disse. Conforme explicou Abegão, antes desse primeiro encontro, o diretor assistia aos ensaios pela internet e ia orientando e conversando com os atores.

Quem Morreu? já teve 10 exibições online e parte para mais uma no 16º Fentepira. "Mas pretendemos, se tudo der certo, em breve conseguir adaptar para o presencial. Que é o que planejamos desde o início".

Já na sexta, é a vez de Ifigênia. A montagem conta a jornada de uma frota grega que está pronta para seguir em combate à Tróia. Porém, uma profunda calmaria de ventos impede a partida dos navios, diante disso, um oráculo é consultado e surge uma condição para que os ventos voltem a soprar.

O texto foi escrito por Raul Rozados, que também atua ao lado de Carla Sapuppo. A direção/encenação é de Fátima Monis.

Rozados contou que Ifigênia é uma história que há muito tempo tem guardada na mente. "O primeiro contato que eu tive foi por 2002, quando estudava no Conservatório Carlos Gomes. Eu a Carla tínhamos um professor de interpretação, o Rubens Teixeira, além da Fátima Monis, que era professora de expressão corporal (inclusive foi lá que nós a conhecemos). O Rubens queria montar Ifigênia de Áulide, uma tragédia grega de Eurípedes. Não deu certo, mas estudamos bastante coisa de tragédia, mitologia, e me agradava muito essa história. Aí, em 2007, eu pensei em escrever um texto a partir dessa tragédia. Peguei uma das versões do mito de Ifigênia e me debrucei sobre sua ideia central, que é o sacrifício da filha primogênita em benefício da nação".

Ifigência conta a jornada de uma frota grega que está pronta para seguir em combate à Tróia

Apesar desse ponto de partida, a montagem de Rozados bebeu de muitas fontes. "É uma história que se repete ao longo da história, no curso da humanidade, mas fui colocando outras camadas da mitologia, cantos, círculos, a Eneida, o cavalo de Tróia, além de saltos no tempo e espaço. Ou seja, uma coisa acontece no palácio, outra acontece no campo de batalha, uma situação começa pelo fim, depois volta para o início. Quando a gente começou a montar, a Fátima teve o insight de trazer tudo isso para contemporaneidade".

A diretora de Ifigênia também comentou sobre o espetáculo e o processo. "Fui convidada a fazer a encenação desse projeto e a primeira coisa que eu tive foi a sensação de uma temática atual. Porque mesmo falando de guerras, de mitologia, da presença dos deuses, é possível fazer várias leituras na atualidade, como o preço que as pessoas pagam pelo poder ou o quanto estamos dispostos a abrir mão de uma coisa que amamos por ele", relatou Fátima sobre as lutas internas de ser humano, que ultrapassam o tempo.

Frente a esse tema, foi construída a encenação. "É um texto denso e a ideia foi trazer elementos contemporâneos que ajudassem o público a ser conduzido nessa história. Surgiram então os elementos de cena. As primeiras ideias foram muito diferentes, trabalhamos várias vezes nos ensaios e fomos reconstruindo o texto, que foi sempre muito presente. Chegamos então na ideia dos elementos atuais e como eles poderiam nos ajudar a contar uma história de mitologia, de forma que fosse gostosa, legal, sem perder a densidade do texto, mas trazendo também uma leveza, uma beleza, contrapondo um ambiente íntimo e familiar ao ambiente da rua, da guerra. Assim, optamos por trabalhar com bonecas, com coisas que remetessem ao lar e a infância".

O formato da peça também tem uma linha de pensamento. "Ele é circular. As coisas acontecem dentro, no centro desse círculo. A sensação é que esse é um espetáculo muito vivo. Tanto que se fôssemos mexer agora nele, ganharia com certeza mais e mais elementos".

Bate-papo ao vivo – Após as exibições, acontece um bate-papo ao vivo com o chat. A conversa contará com representantes do grupo de teatro e os provocadores, debatedores dessa edição do Fentepira, Alexandre Mate, Caio Martinez e Paula Ibañez.

Programação do 16º Fentepira

Fentepira: fentepira.com.br

Youtube: https://www.youtube.com/channel/UCRFYRQxXWp_NEP0RwQkezNw

Links Curtos para o Youtube: encurtador.com.br/hHIP7 / https://url.gratis/qWXU3w

Semac: http://semactur.piracicaba.sp.gov.br/

Serviço

Dia 25 (quinta)

Espetáculo: Quem Morreu?

Link de antigas apresentações/promo: https://www.youtube.com/watch?v=ihQyLs0dgvo

Link para a exibição: https://youtu.be/G4p7VJYITKk

Grupo: Andaime Teatro (Piracicaba/SP)

Horário: 20h

Duração: 48 minutos

Classificação: Livre

Dia 26 (sexta)

Espetáculo: Ifigênia

Link de antigas apresentações/promo: https://www.youtube.com/watch?v=T9cYYuNznRY

Link para a exibição: https://youtu.be/UUHEHX6fkKY

Grupo: Teatro Trilha (Piracicaba/SP)

Horário: 20h

Duração: 1h10

Classificação: 14 anos