A Prefeitura de Piracicaba,em parceria com o Conselho de Participação e Desenvolvimento da Comunidade Negra de Piracicaba (Conepir) e o Centro de Documentação Cultura e Política Negra de Piracicaba (CDCPN), lançam na segunda-feira (09), o 2º Calendário Afro-piracicabano/2020 que traz, além das datas, as fotos e os currículos resumidos de 12 personalidades ligadas à luta e à defesa da cultura afro-brasileira na cidade. A proposta também tem o apoio da Secretaria Municipal de Ação Cultural e Turismo (SemacTur);

Segundo Adilson Abreu, diretor do Conepir, a ideia foi apresentada no ano passado à Chefia de Gabinete da Prefeitura que, imediatamente, encaminhou ao prefeito Barjas Negri. Na primeira edição, coube ao Centro de Documentação e ao Conepir as indicações dos 12 primeiros nomes para o calendário 2019. “A nossa proposta prosperou graças ao sucesso do primeiro calendário. Neste ano tem sua continuidade e, consequentemente, também nos próximos. Definidos os nomes, o Centro de Comunicação Social cuidou da arte final e da impressão de 300 cartazes”, relatou Adilson.

Segundo o prefeito Barjas Negri, a Prefeitura de Piracicaba tem compromisso público de combate ao racismo e à discriminação racial, tendo como grandes parceiros o Conepir e o Centro de Documentação, entre outras entidades. Ele citou como exemplos a criação do próprio Conepir, a edição do livro “Consciência Negra em Movimento”, do lançamento do selo divulgando leis antirracismo, além de outras ações que visam promover a igualdade. Para Agnaldo Benedito de Oliveira (Guina), presidente do Centro de Documentação, o propósito do calendário é de que a população tenha maior conhecimento de personalidades que construíram e contribuíram para o desenvolvimento da cidade, sua história e tradições e, ainda, porque são guardiões da preservação da cultura local.

Já Adney Araújo, presidente do Conepir, disse que a função do Conselho é preconizar que a cultura do negro precisa ser preservada, justificando que “a visão da contribuição negra na sociedade ainda é atravessada pelo estigma da escravidão e pobreza. O negro, ainda hoje, não é visto em local relevante na construção de Piracicaba. Mas com ações afirmativas, como essa do calendário, vêm mudando na cidade essa imagem, fruto de muito trabalho de muitos negros e negras”.

HOMENAGEADOS 2020

DONA ROSA – Rosa Araújo de Abreu, ativista e militante negra, nasceu em São Paulo no dia 20 de novembro de 1937. Casada – 3 filhos, 12 netos e 6 bisnetos -, mudou-se para Piracicaba em 1981. Desde então, desenvolve trabalhos nas mais variadas áreas , como nas artes, artesanato e moda. Por vários anos realizou a tradicional festa de São Cosme e São Damião no 13 de Maio, onde também realizou o 1º desfile Negro da Terceira Idade. Foi administradora regional de Santa Teresinha, assessora parlamentar na Câmara de Vereadores e presidente do Centro Comunitário do Parque Piracicaba. Rosa acredita que as mulheres são a alma da sociedade.

ZETE – Maria Ivete de Araújo nasceu em São Paulo, no dia 19 de agosto de 1958. É assistente social e mãe de dois filhos. Começou na militância no início dos anos 80. Foi justamente em 1980 que iniciou sua carreira no serviço público de Piracicaba, na Coordenadoria de Ação Cultural. Foi auxiliar administrativo no Salão Internacional de Humor; anos mais tarde, passou a ser diretora dessa importante Mostra. De família de ativistas negros, sempre teve como mote a igualdade racial e de direitos. Em 2017 assumiu a chefia do programa Movimentação Cultural, dando continuidade à sua crença: “Sem a arte, a alma perde seu brilho e adoece”.

DONA OLGA – Olga de Andrade Raphael nasceu em Piracicaba, no dia 22 de fevereiro de 1940. Filha de Ilda Correa e Júlio Andrade, é viúva. Tem duas filhas e quatro netos. Dona Olga, como é chamada, é aposentada – trabalhou na Santa Casa e, por 22 anos, foi funcionária da Prefeitura de Piracicaba. Faz parte da Irmandade de São Benedito desde 1957 e da Irmandade feminina das Filhas de Maria da Igreja de São Benedito. É uma das mais antigas integrantes do Conepir – Conselho da Comunidade Negra de Piracicaba.

BIRA – Ubirajara Cristiano de Barros Sabino, o Bira, nasceu em Piracicaba no dia 02 de janeiro de 1978. Casado e pai de duas filhas. Ajudou na fundação da Casa de Cultura Hip Hop de Piracicaba há 17 anos. Desde pequeno já participava de projetos comunitários: Ópera Rap, oficina “História da África” e no Recanto da Esperança”. O seu foco sempre foi as atividades socioeducativas para crianças e jovens da periferia dentro da cultura hip hop. Atualmente é orientador social do Centro de Atendimento Socioeducativo (CASE).

ROSA – Marcos Geraldo Rosa, conhecido por “Rosa”, nasceu em Jaú no dia 29 de setembro de 1960. Chegou em Piracicaba em 1980, local onde fincou suas raízes. Rosa é mestre pizzaiolo, microempresário e proprietário empreendedor. Campeão brasileiro e sul-americano de atletismo, desempenha ações de extrema importância nos movimentos em defesa da inclusão social das pessoas negras, tendo sido membro do Centro de Documentação e Política Negra do Município de Piracicaba. Além de Mestre Pizzaiolo, é Chefe de Cozinha Internacional e Professor de Culinária Vegetariana. Fonte: Acervo da Câmara de Vereadores de Piracicaba.

TURY – José Roberto Ferraz, conhecido como Tury, nasceu em Piracicaba. Em 2005, ajudou a fundar a associação Corrente Solidária, atendendo pessoas com diversos problemas de saúde, trabalho, moradia, educação e lazer. No mesmo ano, junto com amigos, deu início ao rojeto Samba e Prosa, fonte de cultura e resgate do samba tradicional e também recurso para a Corrente Solidária em combate à discriminação racial, ajudando a promover cursos de capacitação, minimizando a angústia de muitos jovens que não têm acesso à informação. SALETE – Maria Salete Aparecida Rodrigues Lopes nasceu em Piracicaba no dia 22 de setembro de 1956. Expressão da mulher negra, doméstica de militância silenciosa, aos seus 63 anos ainda tinha vigor para exercer a profissão de diarista. Foi casada com Vital Cardoso da Silva, com quem teve quatro filhos, além de sete netos e cinco bisnetos. Maria Salete faleceu no dia 27 de outubro de 2019 e sua trajetória é motivo de honra pela luta da mulher negra. Seus ensinamentos e profunda dedicação à família nos ensinou – com toda a sua humildade – que devemos lutar e andar de cabeça erguida, mesmo diante das maiores dificuldades. DITINHA PINEZZI – Maria Benedita Pereira Pinezzi, carinhosamente chamada de Ditinha, nasceu em Piracicaba, no dia 19 de julho de 1917, trabalhou como doméstica e, preocupada com o próximo e as condições sociais da região onde morava, tornou-se líder comunitária. De berço humilde, com muito esforço e trabalho tornou-se vereadora durante três gestões (1960-1963, 1964-1969, 1969-1972) e continuou a estudar, formando-se em Direito. Casou-se com Vicente Pinezzi e faleceu no dia 26 de junho de 1985. Foi a primeira mulher – e negra – eleita vereadora em Piracicaba.

SONIA VERÍSSIMO – Sonia Maria Veríssimo nasceu em Piracicaba, em 14 de julho de 1948. Trabalhou como bordadeira, costureira, confeiteira, boleira e doméstica. Sua presença marcante e histórica acontece nos anos 80 quando, junto com amigos, inicia o Movimento Negro de Piracicaba. Foi um período de grande relevância para a comunidade, que na época era muito repudiada, inclusive por forças policiais e políticas. Formou-se em Serviço Social. Em 2012, se engajou na construção de um velho sonho de criar o Conselho de Participação e Desenvolvimento da Comunidade Negra (Conepir) – Lei 7.444/12. Recebeu o título de Piracicabanus Praeclarus.

PARAFUSO – Antônio Candido, conhecido como Toninho Parafuso, nasceu em Piracicaba no dia 19 de fevereiro de 1921, e se popularizou como cantor de cururu. Em sua homenagem, existe a Praça Parafuso em Piracicaba, cidade onde chegou até a ter um fã-clube tamanho era seu sucesso. Toninho foi um dos grandes cantadores de cururu de Piracicaba, com seu jeito engraçado de cantar e sua simplicidade. Parafuso levava multidões onde se apresentava. Indiscutivelmente, o nome de maior projeção popular, na cidade, nos dias que correm. Parafuso era popular porque possuía qualidades essenciais, como simpatia, alegria e simplicidade. Era um excelente cantador de cururu. Parafuso morreu em 1973, aos 56 anos.

ZÉ DO PRATO – José Antônio de Souza nasceu em Regente Feijó no dia 29 de abril de 1948. Ficou conhecido como Zé do Prato, o maior locutor de rodeio do Brasil. O “Anjo Negro” e “Grande Pai” do rodeio ensinou, com humildade, talento e credibilidade, ao Brasil amar e respeitar festas de peão. O sucesso desse tipo de vento deveu-se ao locutor, que conquistou o povo brasileiro. Como locutor de rodeios, abria os eventos com a tradicional oração da Ave Maria. Arrancava lágrimas com seus versos improvisados. Zé do Prato faleceu em 27 de janeiro de 1992, em Piracicaba, aos 43 anos.

FUMAÇA – João Carlos de Campos Justino, conhecido como Fumaça, nasceu em Piracicaba. Era filho de Ayrton Justino e de Rubina de Campos Justino. Casou-se e teve dois filhos. Começou sua carreira como operador de rádio na Rádio Difusora AM. Posteriormente, transformou-se em um dos maiores ícones do rádio em Piracicaba, atuando em todas as emissoras da cidade, apresentando programas sertanejos e de utilidade pública. Teve forte atuação no Clube 13 de Maio. Fumaça teve consagrada atuação narrando rodeios e organizando desfile de cavaleiros. Como suplente, assumiu uma das cadeiras da Câmara de Vereadores de 1998 a 2000. Faleceu aos 55 anos, no dia 8 de setembro de 2015.