A Secretaria Municipal de Ação Cultural, por meio do Centro de Documentação, Cultura e Política Negra e da Biblioteca Pública Municipal “Ricardo Ferraz de Arruda Pinto” estará promovendo no próximo mês, no Engenho Central, o lançamento do programa Difusão Cultural Afro-Brasileira.

O programa consiste em desenvolver cinco projetos nas áreas de cultura e educação no decorrer deste ano. São eles: Curso de História e Cultura da África e Afrobrasileira; Workshop nos bairros; Banco de Dados-Acervo e Documentação; Incentivo e assessoria à pesquisa da comunidade negra de Piracicaba e o quinto projeto é o de Inserção nas práticas culturais da cidade.

Conforme dados apresentados na elaboração do projeto por Antônio Filogênio de Paula Júnior e Lucila Calheiros Silvestre, no século XVIII, a região onde estão localizadas hoje as cidades de Piracicaba, Limeira, Capivari, Rio Claro entre outras, reuniram um número expressivo de etnias africanas, principalmente do macro grupo étno/ lingüístico bantu, que foram trazidos para trabalhar em lavouras.

Na abolição, estes negros foram se integrando no cotidiano urbano das cidades, procurando tarefas nas quais eram aceitos e começaram a organizar as primeiras associações de ajuda mútua.

Em Piracicaba, em 1901 nasceu a Sociedade Beneficente Antônio Bento renomeada de Sociedade Beneficente 13 de Maio, no ano de 1908. O 13 de Maio, conforme dados dos coordenadores do Programa de Difusão Cultural Afro-brasileira, é considerado por alguns historiadores, a terceira entidade negra mais antiga do país, constituindo-se em um marco da história do negro em nossa região.

Júnior informou que entre os fatores que deram origem ao programa estão o interesse em tornar a Biblioteca Municipal mais atuante neste aspecto; contribuir com o Centro de Documentação Negra, existente em Piracicaba desde 1992, mas que não dispunha de estrutura para viabilizar ações educativas e também para atender ao cumprimento da lei federal nº. 10.639 de janeiro de 2003, que torna obrigatório o ensino da história e cultura da África e dos Afrodescentes , capacitar professores para ministrarem aulas nestas temáticas.

Para Júnior, esta ação simboliza um momento inovador, garantindo ao município sua inserção nesta proposta que vem dos governos estadual e federal, de forma mais organizada. Este trabalho, segundo ele, potencializa ações que entidades negras vinham de algumas formas fazendo.

Na prática, Júnior vê vários como ganhos à população, principalmente o fato de ampliar os contatos e diálogos entre os tidos como “diferentes”, o que deverá contribuir para amenizar formas de preconceito, racismo e de discriminação. “É mostrar que o negro não é melhor, mas também não é pior. Ele tem uma cultura, que está aí pronta para ser apresentada, debatida e o que dela for bom, contribuir para uma sociedade mais humana e mais fraterna”, concluiu ele.

Os cinco projetos:

Curso de História e Cultura Afro Brasileira, em parceria com a Secretaria de Estado da Cultura – Assessoria da Secretaria de Gênero e Etnias ministrados por professores da Unesp de Araraquara. Será direcionado, principalmente para professores, representantes das entidades da comunidade negra e multiplicadores culturais. Num primeiro momento, o foco principal serão professores da rede municipal de ensino, num total de 45 horas.

Workshops serão ministrados em quatro bairros que apresentam contingente de população negra e que já tenha atuação nesta área. Os bairros são Paulicéia, Vila África (Vila Independência), Cecap e Mário Dedini. Serão ministrados por multiplicadores e terão duração de três horas

Banco de Dados e Acervo de Documentação atualizado sobre África e Cultura Afro Brasileira, servirá para pesquisas tanto de alunos, quanto dos professores sobre estas culturas. Para tanto, a parceria da Prefeitura com a ONG – Organização Não-Governamental Casa das Áfricas, de São Paulo, mantida por professores da USP, que em sua maioria fizeram mestrado em alguma temática da África.Esta Ong doou vários livros raríssimos que abordam esta temática, inclusive alguns ainda sem publicação no Brasil, mas estão em língua portuguesa, tendo vindos de editora de Portugal.

Incentivo à cultura das comunidades negras deverá resgatar e manter registro da história da comunidade Afro-brasileira de Piracicaba e registrar e documentar das famílias negras tradicionais e personalidades da comunidade negra. Para este projeto, está em vista a parceria com a Unimep, no curso de Comunicação Social, em jornalismo.

Inserção nas práticas culturais da cidade – Desenvolver nas dependências da Biblioteca Municipal cursos, exposições, palestras com temática africana com mais freqüência no espaço.

Piracicaba abriga duas Associações de Mulheres Negras: Nzinga Mbandi e Negras em Movimento; Associações de bairros: Vila África e Itaberá; Rede de Religiões Afro e Saúde; Casas de candomblé e Umbanda: Grupos Musicais e Projetos Musicais Educativos; Grupos de Capoeira; Agentes de Pastoral Negra (Católicos e Protestantes), entre outros.