Ziraldo em Piracicaba na década de 1970
Ziraldo em Piracicaba na década de 1970

O escritor e cartunista Ziraldo morreu de causas naturais por volta das 14h30 do sábado, 6/04, aos 91 anos, em seu apartamento, no bairro da Lagoa, na zona sul do Rio de Janeiro. O criador do personagem Menino Maluquinho foi uma das figuras-chaves, também, para a criação do hoje cinquentenário Salão Internacional de Humor de Piracicaba, na década de 1970.

Junior Kadeshi, diretor do Cedhu (Centro Nacional de Documentação, Pesquisa e Divulgação de Humor Gráfico de Piracicaba), equipamento da Semac (Secretaria Municipal da Ação Cultural) que realiza o Salão de Humor, conta que Ziraldo, ao lado do irmão Zélio, de Jaguar e de outros cartunistas, eram as mentes criativas do Pasquim, que inspirou o grupo piracicabano formado por Carlos Colonnese, Roberto Antônio Cêra, Luiz Antônio Lopes Fagundes, Fausto Longo, Adolpho Queiroz, Zélio e Hermelindo Nardin, além de Alceu Marozzi Righeto e Fortuna, a idealizar aquele que já é considerado um dos mais cobiçados e importantes salões de humor gráfico do mundo.

Ziraldo, lembra Kadeshi, acompanhou presencialmente a primeira e a segunda edição do Salão de Humor de Piracicaba, realizadas respectivamente nos anos 1974 e 1975, e retornou mais vezes nas décadas seguintes, além de ser tema de mostras paralelas e ter assinado cartazes de algumas edições.

Mural pintado em 1967 por Ziraldo será restaurado pela UFRJ
Ziraldo morreu de causas naturais no último sábado Crédito: Fernando Frazão/Agência Brasil

De acordo com os registros históricos do Cedhu, Ziraldo expôs trabalhos dos seus 30 anos de carreira na nona edição do Salão de Humor, em 1982. Também participou na edição de número 16, em 1989, sobre os 20 anos de Pasquim. Em 1995, ele retornaria a Piracicaba para receber a medalha Reginaldo Fortuna pelos seus serviços ao humor do Brasil.

Já o cartaz oficial da 35ª edição do Salão de Humor, de 2008, foi assinado por Ziraldo junto a Millôr Fernandes. Ziraldo também fez a arte do cartaz do 16º Salãozinho de Humor.

Ele também reproduziu, em Piracicaba, o famoso Mural do Canecão, no Rio de Janeiro, no 28⁰ Salão, em 2021. Em 2022, na 49ª edição, foi homenageado com a exposição Ziraldo 90, em comemoração aos seus 90 anos, com curadoria do cartunista Edra.

“Com pesar recebemos a notícia da morte do mestre Ziraldo. Foi um grande inspirador do Salão Internacional de Humor de Piracicaba. Esteve conosco em diversas edições do salão e deixa para nós um legado, uma grande história e lembranças que não se apagarão. Descanse em paz, amigo”, ressalta Kadeshi.

Para a edição de número 51, que será inaugurada no dia 30 de agosto de 2024 e já recebe inscrições, Kadeshi estuda alguma ação para homenagear Ziraldo. “Vamos pensar uma forma de rememorar o legado desta pessoa tão importante para a existência e consolidação do nosso salão”.

Mural pintado em 1967 por Ziraldo será restaurado pela UFRJ
O artista Ziraldo visita seu mural gigante Última Ceia, pintado em 1967, que estava encoberto na antiga casa de show Canecão e será restaurado pela UFRJ e aberto ao público em abri (Fernando Frazão/Agência Brasil)

ZIRALDO – Ziraldo Alves Pinto nasceu em Caratinga, Minas Gerais, em 1932. Aos 7 anos de idade, em 1939, apresentou seu primeiro desenho no jornal Folha de Minas. Em 1949, mudou-se para o Rio de Janeiro, onde fez carreira.

Apesar da formação em Direito, pela Universidade Federal de Minas Gerais, construiu uma carreira importante como desenhista, escritor, apresentador e jornalista. Na década de 1950, trabalhou em uma coluna de humor no jornal Folha da Manhã, atual Folha de São Paulo. Depois iria para a revista O Cruzeiro e para o Jornal do Brasil.

Na década de 1960, publicou a primeira revista em quadrinhos de sucesso, a Turma do Pererê, que seria cancelada pouco tempo depois do golpe militar de 1964. Voltaria ainda em edições pela Abril e Editora Primor nas décadas seguintes.

Sua mais conhecida criação, o Menino Maluquinho, nasceu nos anos 1980 e foi inspirada no filho do escritor. O personagem deu origem ao livro infantil campeão de vendas e ao filme de grande sucesso nos cinemas do país. O livro foi traduzido para o inglês, espanhol, basco, alemão e o italiano e teve adaptações para o cinema, teatro e televisão. Outros livros de destaque foram Flicts (1969) e O Bichinho da Maçã (1982).